Desde Janeiro deste ano que, com mais altos que baixos, o barril de petróleo Brent, mas também o WTI (Texas), está a subir de forma lenta mas sólida, tendo, no último mês, dado um salto substancial de quase 10 dólares norte-americanos, surpreendendo parcialmente os mercados e os analistas.

As razões para este progresso são, numa primeira linha, o programa de cortes definido pela Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e por um conjunto de 11 países não-membros liderados pela Rússia, que desde 01 de Janeiro está a retirar diariamente 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) dos mercados.

Numa segunda linha, uma melhoria na procura da matéria-prima por parte das grandes economias, o que resultou numa quebra dos "stocks", sendo disso bom exemplo os registos nos EUA, onde as agências do sector estimam que em média as reservas estejam a diminuir, nos últimos meses, à volta de cinco milhões de barris por semana.

A isto está ainda ligada a questão do desinvestimento das multinacionais petrolíferas na pesquisa por novos blocos, por causa dos baixos preços desde 2014, o que resultou numa quebra de descobertas que já não ocorria desde a década de 1940, proporcionando menos crude garantido no futuro, bem como o desinvestimento da indústria do "fracking" nos EUA, pela mesma razão.

Veio depois a questão da instabilidade provocada pela crise na Península Coreana e as suas adjacências, sempre envolvendo um leque de ameaças bélicas entre Washington e Pyongyang, envolvendo o triângulo externo Rússia, Japão e Coreia do Sul, exponenciado pela crise no Curdistão iraquiano e com o avolumar, também, das ameaças do Presidente Trump sobre o Irão.

Por fim, embora outras razões existam, surge a recente crise na administração saudita, onde pontifica a detenção, por suspeitas de corrupção alargada, de um conjunto de eminentes figuras do reino que é, ao mesmo tempo, o maior produtor mundial de petróleo e o maior contribuinte líquido para o esforço de redução da produção encetado pela OPEP.

A caminho dos 3 dígitos

Face a este cenário, como já apontam alguns analistas citados pela imprensa especializada, depois de quebrada a barreira dos 60 USD por barril, o que conduz a um persistente recurso às reservas e ao seu consequente enxugamento, abrindo, assim, caminho para que se juntem todos os indícios de que o barril estará numa margem entre os 80 e os 110 dólares no decurso de 2018.

Por exemplo, a Forbes, numa análise de Bryan Rich, cita hoje dois especialistas/investidores, Leigh Goehring e Adam Rozencwajg, que defendem que "quando os inventários atingem os níveis baixos actuais, tem início o risco de se atingir os três dígitos no preço do barril", sublinhando ainda que existe a possibilidade de uma disrupção no fornecimento, que pode advir da crise política e instabilidade interna actual na Arábia Saudita, o que projectaria estas estimativas para cima...

E a OPEP?

A OPEP não está a dormir na forma neste capítulo, tendo marcada uma reunião considerada de grande importância para 30 deste mês, em Viena de Áustria, onde, entre outras questões, se vai discutir, em conjunto com os não-membros, nos quais se destaca a Rússia, o México e o Cazaquistão, a já quase certa extensão do calendário dos cortes após Março de 2018.

Se este prolongamento já é esperado, até porque foi admitido pelos ministros da Energia da Rússia e da Arábia Saudita, o 2º e o 1º produtores mundiais, a surpresa pode chegar através de uma alteração substancial no que diz respeito ao volume encurtado na produção global, actualmente nos 1,8 milhões bpd, podendo, segundo alguns analistas, passar para os 2,2 ou 2,3 milhões bpd.

Por um lado, essa medida pode ser facilmente conseguida caso países que ficaram fora do esforço integrem o pelotão da frente, como a Nigéria e a Líbia, e os grandes produtores, como a Rússia e a Arábia Saudita, assumam a parte de leão dos cortes acrescentados.,

Mas por outro lado, esta nova realidade pode abrir o apetite dos grandes investidores do chamado "fracking" ou petróleo de xisto, que consiste na injecção de água sob altas pressões a grande profundidade para explodir a rocha extraindo-lhe o gás e o petróleo nela contidos.

Esta produção alternativa é apontada como um dos elementos que pode subverter esta estratégia de cortes da OPEP & Co. porque, devido à melhoria da tecnologia usada na extracção e à diminuição dos custos de produção, a sua rentabilidade pode voltar já com os actuais preços, na casa dos 60 USD.

Seja como for, para já, Angola é um dos países que mais ganha com este cenário, porque a sua contribuição de 78 mil bpd nos cortes globais da OPEP+Rússia... foi rapidamente compensada pelos aumentos no preço do barril iniciais, estando actualmente largamente compensado esse esforço, com o barril de Brent a atingir hoje os 64,35 dólares.

Mas também porque se adivinha que as multinacionais presentes no país possam voltar a investir, retomando a normalidade nos seus blocos, contratando mão-de-obra, etc; com tudo aquilo que é sobejamente conhecido em Angola como importante para a economia nacional, desde o impacto no imobiliário à injecção de divisas.