Quando a Goldman Sachs, JPMorgan, Morgan Stanley, OPEP+, Agência Internacional de Energia (AIE) se unem à volta de uma certeza e que essa certeza é que o barril de crude vai trepar para lá da barreira da centena de dólares, é bom que tal suceda, porque se assim não for...

... o pânico não virá do desequilíbrio entre a oferta e a procura, ou do desfalecimento das grandes economias mundiais, como a chinesa, a norte-americana ou a indiana, mas sim do desmoronar do poder de quem manda efectivamente no dinheiro que circula no globo.

Tal não sucederá... pelo menos para já, porque, apesar de os stocks nos EUA estarem em surpreendente subida, no que seria, normalmente, razão para quebras no valor da matéria-prima nos mercados, a verdade é que, pelo contrário, o Brent está a subir em Londres, e o WTI de Nova Iorque igualmente.

O que quer dizer que se "eles", a Goldman Sachs, a JPMorgan, o Morgan Stanley, a OPEP+ ou a AIE... nos estão a dizer que o barril vai trepar para os ramos de cima dos gráficos, além dos 100 USD, mesmo 110 ou 120, segundo alguns destes senhores da finança mundial, é porque a realidade se vai conformar à sua vontade.

E é tanto assim que o barril de Brent, depois de dois dias a resvalar ligeiramente no vermelho, voltou hoje ao verde e estava, perto das 11:30, hora de Luanda, a valer 86,73 USD, mais 0,77% que no fecho de quarta-feira, porque "eles" é que mandam...

E tanto assim é que a Reuters explica hoje que este regresso ao positivo nos mercados é resultado da decisão dos investidores voltarem a comprar petróleo como aposta segura, mesmo que, por exemplo, pouco ou nada tenha mexido nos stocks dos EUA, que engordaram na semana passada devido a menor procura por gasolina.

A previsível, porque já anunciada, inclinação na FED norte-americana e no Banco Central Europeu para baixarem as taxas de juro directoras, permite augurar um período de recuperação nas respectivas economias e, como sempre sucede, no consumo de crude.

O que também não se pode ignorar é que a OPEP+, que desde 2017 agrega os Países Exportadores (OPEP) e a Rússia + nove "independentes" paa manter os mercados a sue favor, ou em equilíbrio, na terminologia oficial do "cartel", não tira o dedo do gatilho.

Isso é, sempre que as oscilações não interessam à organização, seja em comunicados escritos em "sânscrito", para apenas iniciados perceberem, seja através de fontes anónimas à Reuters ou à Bloomberg, é dito que o gatilho dos cortes na produção ou na extensão destes, vai ser de novo apertado.

E como o "cartel" ainda manda em quase 50% da produção mundial, não é difícil perceber que qualquer mau humor entre os russos ou os sauditas, iranianos ou... pode levar a mexidas que sairão sempre muito caro aos gigantes mundiais do consumo, como EUA ou Europa ocidental.

Embora, por vezes, neste universo de extremas sensibilidades às mínimas oscilações, nem é preciso a OPEP+ mostrar os dentes, basta um dos seus membros de peso, como a Rússia, o 2º maior exportador mundial, repetir aquilo que já se sabe: que a partir do 2º trimestre vai forçar a adequação da sua produção aos cortes assumidos no âmbito da estratégia da OPEP+.

E se essa informação vier expressa numa nota da JPMorgan, como foi o caso mais recentes, onde os analistas deste gigante da finança dizem que o anúncio de Moscovo vai forçar em alta os preços rapidamente.

"As acções da Rússia neste particular vão empurrar o barril de Brent para além dos 90 USD já em Abril e até Setembro estará acima dos 100 USD", dizem os analistas da JPMorgan numa nota citada pelo OilPrice a partir do Investing.com, embora se trate de um elemento vazio de novidade, porque é apenas Moscovo a cumprir a palavra dada aos sócios do "cartel".

E quando o "sismógrafo" está tão afinado como é caso, se um dos "oráculos" deste especioso "Olimpo" diz que o barril vai escalar o monte de Delfos, é porque já está a caminho.

Os gráficos em Londres e em Nova Iorque provam isso mesmo... E os dados positivos das economias da China e dos Estados Unidos da América ainda mexem qualquer coisita neste... "Olimpo" onde os países mais petrodependentes estão sempre a espreitar pela fechadura, como Angola, por exemplo.

E o porquê é simples de entender...

Apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, ter o Brent nos 86 USD permite, embora não seja o antidoto definitivo, diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.