Numa resposta acalorada à sucessão de notícias nos media ocidentais, citando fontes anónimas da Casa Branca e diplomatas europeus, do "cancelamento sine die" da ida dos Presidentes russo e norte-americano a Budapeste, Peter Szijjarto acusou mesmo as "elites pró-guerra" ocidentais de forjarem sucessivas "fake news" com o objectivo de boicotar a preparação do encontro entre Trump e Putin na capital húngara.

Referindo-se às notícias que surgiram imediatamente após o seu anúncio no Financial Times e The Washington Post, que citam fontes da Casa Branca e diplomatas europeus, para avançar que os norte-americanos já não querem o tête-à-tête, o chefe da diplomacia húngara acusou mesmo os media ocidentais de "estarem ao serviço da guerra".

Logo nas horas seguintes ao anúncio de um encontro na capital da Hungria entre os Presidentes dos EUA e da Rússia nas próximas semanas, os aliados europeus de Kiev deram início a uma campanha de sabotagem mediática do segundo tête-à-tête em pouco mais de dois meses entre Donald Trump e Vladimir Putin, usando como detonadores os media ocidentais.

Porém, depois da conversa telefónica entre Donald Trump e Vladimir Putin na quinta-feira, 16, onde, horas antes do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, chegar a Washington para um muito mediático almoço na Casa Branca onde, na sexta-feira, 17, lhe seriam "servidos" os mísseis Tomahawk , o norte-americano anunciou que tinha marcado um encontro com Putin dentro de "duas semanas" em Budapeste.

A divulgação desse encontro estragou não apenas a digestão a Zelensky, que viu assim gorada a expectativa de levar de volta para Kiev entre 20 a 50 mísseis Tomahawk, como já davam por garantido os mesmos media que agora procuram estragar os planos para Budapeste, como deixou em polvorosa as capitais europeias que exigem aos ucranianos que continuem a guerra até à derrota total de Moscovo, como mantém como desígnio a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

De acordo com as fontes citadas, inicialmente pelo Financial Times, e depois por vários outros jornais e televisões, como a norte-americana CNN, o adiamento do encontro sem novo calendário previsível, decorreu da constatação da Casa Branca que os russos não tinham alterado as suas exigências "maximalistas" para um cessar-fogo na Ucrânia, que é definir antes um acordo de paz assente na resposta às causas profundas para o conflito.

E sem qualquer cedência de Moscovo, um encontro entre Putin e Trump não traria nada de relevante além da renovação das condições russas, depois de também os ucranianos, pela voz do próprio Presidente Zelensky, terem saído a público a dizer que continuam a exigir como condição mínima para negociar com o Kremlin a saída das forças russas de todos os territórios anexados nos últimos anos, incluindo a Crimeia, em 2014.

Ora, embora o ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro tenha vincado, citado pelas agências, que estas notícias não correspondem à verdade, o que pressupõe que o encontro de Budapeste se mantém na agenda da Casa Branca e do Kremlin, a verdade é que, segundo The Guardian, o próprio Donald Trump vem agora admitir que não quer que um novo encontro com Vladimir Putin seja "uma perda de tempo", dando, mesmo sem desmarcar o tête-à-tête de Budapeste, substância às notícias do Financial Times e da CNN International.

Por detrás da sabotagem da aproximação EUA e Rússia pelos europeus, que a Casa Branca e o Kremlin continuam a manter à margem da mesa principal onde Putin e Trump discutem as condições para a paz na Ucrânia, está a vontade expressa pelo Reino Unido, Alemanha e França que nada do que for decidido sobre a Ucrânia aconteça sem a sua presença...

Esta forma de trabalhar dos EUA e da Rússia "é um pesadelo" para os europeus que se encontram cada vez mais secundarizados, dizem alguns media citando fontes da União Europeia, o que corrobora a ideia avançada pelo Financial Times de que nas principais capitais europeias "ninguém gosta do que os americanos estão a fazer".

Entre este turbilhão de contra-informação para boicotar o "meeting" e declarações oficiais que tentam salvar a jornada de Budapeste (ver links em baixo), ficam como factos sem desmentido oficial, sem recurso a fontes anónimas, que os norte-americanos anunciaram o encontro, que este será, provavelmente na capital húngara, e que os chefes das diplomacias americana, Marco Rubio, e russa, Sergei Lavrov, estão a preparar a ida a Budapeste ao detalhe.

Isto, porque, apesar de Trump ter já dito que não quer "perder tempo", em nenhum momento disse que não iria a Budapeste, e também em nenhum momento qualquer das informações avançadas pelos media norte-americanos e europeus sobre o seu cancelamento sine dia foi corroborada oficialmente em documento ou declaração oficial.

O que ressalta ainda é que, segundo se pode ler na imprensa é que a Casa Branca sublinha não existir uma data definida para o encontro, o que não foi feito em momento algum, enquanto em Moscovo se sublinha que não houve qualquer alteração de posição.

Neste contexto, e referindo as mesmas declarações, a russa RT faz, todavia, uma abordagem distinta, referindo que em resposta a uma jornalista, que lge perguntou porque é que o encontro de Budapeste pode ser uma perda de tempo, o Presidente norte-americano, deu uma resposta mais abrangente que o que emerge nos outros media.

"Eu não disse que seria (uma perda de tempo), porque nunca se sabe o que pode acontecer. Muitas coisas estão a acontecer na frente de guerra entre russos e ucranianos. Daremos informações aos jornalistas sobre o que faremos nos próximos dias", o que permite perceber que Donald Trump não descarta em momento algum a possibilidade de ir a Budapeste.

E fica ainda em saliência que o encontro de 15 de Agosto no Alasca, o primeiro entre Presidentes da Rússia e dos EUA em mais de quatro anos, abriu caminho a uma reaproximação efectiva entre Moscovo e Washington mas não permitiu avanços sólidos na procura da paz no leste europeu.

E este encontro de Budapeste é uma segunda oportunidade para que esse caminho comece de facto a ser percorrido. Se não for, como notam vários analistas, pode não haver uma terceira oportunidade...

Há, porém uma diferença substantiva em relação a esse encontro histórico no Alasca: então, os europeus só iniciaram as operações de sabotagem após a sua realização, desta feita as equipas de sabotadores estão no terreno - basta ver a quantidade de notícias com base em fontes anónimas que visam desvitalizar a possibilidade e preparação do encontro de Budapeste - semanas antes deste acontecer.

No entanto, tanto americanos como russos estão cientes deste esforço subterrâneo que está a ser feito pelos europeus, e, a haver um antidoto, este será encontrado no decurso das reuniões preparatórias entre Marco Rubio, secretário de Estado americano, e Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros russo...

Entretanto, igualmente sem confirmação oficial, a agência Bloomberg noticiou nas últimas horas que os ucranianos e os seus aliados europeus estão a preparar uma proposta para terminar a guerra na actual linha da frente, no sentido do que Trump dissera há dias, sendo que o cessar-fogo daria depois espaço para negociações em torno da reconstrução da Ucrânia e garantias de segurança, além da, entre outros pontos, num total de 12, entrada imediata do país na União Europeia.