Na noite de terça-feira todos vão ficar em casa e o Exército e a polícia sul-africanos vão garantir que assim vai ser de facto, porque a África do Sul é actualmente o país em África com mais casos, com 402 registos da infecção por coronavírus Covid-19 - passando de escassos 60 para o número actual em apenas 9 dias -, e a medida surge quando em dezenas de países foi já declarado o estado de emergência - em Angola o mesmo poderá surgir se a epidemia continuar a alastrar - como forma de estancar a progressão do vírus.

No continente o número de casos aproxima-se rapidamente dos 1.800, com 47 dos 54 países que o integram já afectados, sendo o número de mortos próximo dos 40, com o maior número a registar-se na África do Sul, com 402, seguindo-se o Egipto e a Argélia, enquanto o Senegal e a Costa do Marfim foram os últimos a declarar o estado de emergência.

Entretanto, as organizações humanitárias começam a alertar para a tragédia que pode estar ao virar da esquina se nada for feito nas dezenas de campos de refugiados existentes um pouco por todo o lado, mas com especial incidência na África Oriental e Corno de África.

Isto, porque existem campos com milhares de pessoas que não podem nem se estima que possam ir a ter acesso às condições mínimas de higiene exigidas nas normas internacionais de combate à pandemia, a alimentação é pobre e a regra de manter 1 a 2 metros de distância social é de todo impossível de cumprir devido ao número elevado de pessoas por metro quadrado.

Sendo certo que a pandemia tem estado a chegar de forma mais lenta a África que a Europa ou a Ásia, a verdade é que é no continente onde se concentram algumas das preocupações mais evidentes da OMS devido à ausência de capacidade local em muitos países de lidar com a doença, fracos sistemas de saúde, falta de infra-estruturas sanitárias em bairros com milhões de pessoas nas grandes cidades...

E nos campos de refugiados, segundo várias organizações humanitárias, estes problemas multiplicam-se a ponto de não ser possível prever as consequências se a transmissão do vírus ocorrer nestes campos com a mesma velocidade que acontece, por exemplo, na Europa ou na Ásia.

Citado pela imprensa internacional, Patrick Youssef, do comité africano da Cruz Vermelha, admite que a situação "vai ser muito má" se ocorrer o início do contágio nestes espaços confinados, porque existe um risco sério de que "os governos se concentrem na protecção dos seus cidadãos" e esqueçam estes campos, onde estão estrangeiros.

Para além disso, África apresenta ainda outro risco acrescido por causa dos milhões de pessoas que sofrem de desnutrição devido a prolemas como as secas prolongadas ou ainda fragilidades físicas em resultado da malária ou de outras infecções como o HIV.

O vírus, o que é e o que fazer, sintomas

Estes vírus pertencem a uma família viral específica, a Coronaviridae, conhecida desde os anos de 1960, e afecta tanto humanos como animais, tendo sido responsável por duas pandemias de elevada gravidade, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), transmitida de dromedários para humanos, e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), transmitida de felinos para humanos, com início na China.

Inicialmente, esta doença era apenas transmitida de animais para humanos, mas, com os vários surtos, alguns de pequena escala, este quadro evoluiu para um em que a transmissão ocorre de humano para humano, o que faz deste vírus muito mais perigoso, sendo um espirro, gotas de saliva, por mais minúsculas que sejam, ou tosse de indivíduos infectados o suficiente para uma contaminação.

Os sintomas associados a esta doença passam por febres altas, dificuldades em respirar, tosse, dores de garganta, o que faz deste quadro muito similar ao de uma gripe comum, podendo, no entanto, evoluir para formas graves de pneumonia e, nalguns casos, letais, especialmente em idosos, pessoas com o sistema imunitário fragilizado, doentes crónicos, etc.

O período de incubação médio é de 14 dias e durante o qual o vírus, ao contrário do que sucedeu com os outros surtos, tem a capacidade de transmissão durante a incubação, quando os indivíduos não apresentam sintomas, logo de mais complexo controlo.

A melhor forma de evitar este vírus, segundo os especialistas é não frequentar áreas de risco com muitas pessoas, não ir para espaços fechados e sem ventilação, usar máscara sanitária, lavar com frequência as mãos com desinfectante adequado, ou sabão, cobrir a boca e o nariz quando espirrar ou tossir, evitar o contacto com pessoas suspeitas de estarem infectadas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) organizou um guia essencial sobre o coronavírus/Covid-19 que pode ver aqui.