A Casa Branca, cujo endereço completo é 1600 Avenida Pennsylvania, Washington, D.C., pode voltar a ser palco de mais um episódio relevante na história eleitoral de 231 anos nos Estados Unidos ao fechar-se de novo para o segundo mandato de um Presidente, o que aconteceu apenas 10 vezes, a última das quais na década de 1990, quando George H. Bush perdeu para Bill Clinton. Se as sondagens se confirmarem... E algumas nunca falharam.

Com cerca de 10% de vantagem, em média, de acordo com as múltiplas sondagens realizadas nas últimas semanas, Joe Biden disfruta de uma clara e confortável vantagem sobre Donald Trump, apesar deste ser conhecido pelas suas proezas circenses de última hora, como sucedeu com Hillary Clinton, em 2016.

Ao surgir na campanha de 2016 com a história dos "mails" que comprometiam Clinton, por ter usado o seu endereço electrónico pessoal e não o oficial quando era Secretária de Estado de Obama, conseguiu uma vantagem que se revelou decisiva: permitiu a Trump apelidá-la, de forma letal e com sucesso entre os eleitores conservadores, de "vigarista".

Mas, desta feita, com tão pouco tempo para as eleições, muito dificilmente conseguirá tirar um coelho semelhante da cartola, até porque já mais de 62 milhões de eleitores votaram antecipadamente, na maioria por correio, o que faz com que estes estejam já imunes a eventuais truques de última hora.

Uma das esperanças de Trump era que uma vacina surgisse antes da ida às urnas, como o próprio prometeu de forma veemente e repetidamente, ao mesmo tempo que achincalhava o uso de máscara, especialmente as que usava o seu adversário, o democrata Joe Biden, mesmo quando testou positivo para a Covid-19 e esteve internado no melhor hospital de Washington, o Walter Reed, uma unidade de saúde da Marinha dos EUA.

Nestas eleições, apesar de ter conseguido uma vitória no Supremo Tribunal Federal, ao, após a morte da liberal Ruth Bader Ginsburg, nomear e colocar, Amy Coney Barrett, uma juíza conservadora entre os "9 magníficos", juízes com cargos vitalícios, que lhe vai permitir, admitem os analistas, atacar com sucesso antes de findar o seu mandato, o denominado Obamacare, uma lei que protege os mais pobres em matéria de saúde e que os republicanos pretendem destruir em defesa dos interesses do lobby da saúde privada.

Mas esta vitória é uma faca de dois gumes porque, se por uma lado, pode aspirar a fazer colapsar, pelo menos parcialmente, o Obamacare, por outro, quebrou uma regra de ouro da democracia norte-americana que é nomear juízes para o Supremo a menos de um ano de eleições, sendo que, desta feita, está a suceder a escassos dias da ida às urnas que podem mudar o curso da história no país.

Uma das últimas sondagens tornadas públicas, são várias que surgem diariamente nos EUA por estes dias, da IPSOS, uma multinacional de pesquisas e sondagens de opinião, com fortes créditos e registo de eficácia conhecido, aponta para essa vantagem de Biden sobre Trump: nove por cento.

Os temas que mais inquietam os eleitores são a pandemia, a economia, o emprego e a saúde. Esta sondagem foi realizada entre 16 e 20 de Outubro, apontando para um aumento da vantagem de Biden face à anterior do IPSOS, feita entre 29 de Setembro e 01 de Outubro, onde esta vantagem era de apenas 5%.

Com estes números, os especialistas do IPSOS sublinham, citados pelo Global News, que Joe Biden leva uma vantagem mais confortável que aquela que Hillary Clinton dispunha em 2016, especialmente tendo em conta os estados que mais balançam entre eleições, os denominados swing states", e que são fundamentais para definir o vencedor, visto que nos restantes as coisas estão consolidadas para um ou outro lado.

Os estados do tudo ou nada para ambos os contendores são o Arizona, Michigan, Wisconsin, Florida, Carolina do Norte e Pennsylvania.

Nestes seis estados onde tudo será decidido, Trump poderá ainda ganhar, mesmo que por uma unha, a Florida e o Arizona, enquanto Biden lidera as intenções de voto no Michigan, Wisconsin ou Pennsylvania, o que é uma vitória de Biden que recupera assim estas geografias eleitorais para o democratas. Na Carolina do Norte é onde as coisas surgem mais apertadas, embora, ainda assim, com um empate.

O oráculo de Quinnipiac

Também o centro de sondagens da Universidade das California do Sul, um dos mais prestigiados dos EUA, na última sondagem feita, divulgada na segunda-feira, atribui uma liderança nas intenções de voto de 11% a Biden, 53% contra 42%.

Outra sondagem, a da Technometrica, coloca Biden com sete pontros à frente de Trump, enquanto a sondagem da Universidade Quinnipiac, considerada a mais credível e famosa por nunca ter falhado uma eleição, no seu estado divulgado na passada semana, aponta para uma larga e confortável vantagem do democrata de 10%.

A Universidade Quinnipiac já em Junho de 2019, como o Novo Jornal noticiou então, dava Donald rump a perder em Novembro para todos os candidatos que na altura disputavam a nomeação entre o Partido Democrata e Joe Biden era o que tinha a melhor performance contra o republicano.

Sobre estas eleições, a Universidade Quinnipiac já realizou três sondagens nas últimas semanas e em todas elas, Joe Biden leva uma claríssima vantagem, sendo que a folga se mantém coerentemente nos 10%.

Considerada como o oráculo eleitoral nos EUA, a Universidade Quinnipiac não costuma deixar créditos por mãos alheias e os resultados que antecipa são vistos como uma espécie de certidão de óbito eleitoral de Donald Trump.

E, para piorar as coisas do lado do Presidente Trump, o agregador nacional de sondagens FiveThirtyEight, um website especializado em sondagens, aponta para 81 em 100 as possibilidades de vitória de Biden.

Apesar destes indicadores, nem de um lado nem do outro parece haver ou desistência ou descanso, porque as atenções das duas campanhas estão focadas nos denominados estados periclitantes, considerados em linguagem eleitoral local de "campos de batalha", juntando aos anteriores seis o Ohio e o Iowa.

E é para estes oito campos de batalha que Biden e Trump enviaram o grosso dos seus "exércitos", com os próprios a mostrarem uma tenacidade incomum, ao deslocarem as suas caravanas de um para outro lado, de forma incansável, porque o que está em causa é o comando das maior potência económica do mundo, da maior potência militar do planeta e do país que mais pode influenciar o curso da humanidade...

Mas na memória de todos está ainda o facto de, nas eleições de 2016, Trump ter sido eleito apesar de Hillary Clinton ter obtido mais 3 milhões que ele no conjunto dos 51 estados que compõem os EUA, o que deixa claro que uma maioria sociológica e matemática pode não resistir às particularidades do sistema eleitoral dos EUA, onde, no fim, é um colégio eleitoral emanado das eleições que vai decidir o nome do próximo morador no nº 1600 da Avenida Pennsylvania, em Washington DC.