Com esta posição da Administração norte-americana, a OMC tende a entrar num impasse porquanto Okonjo-Iweala contava já com o apoio do bloco europeu e a esmagadora maioria dos países africanos, entre outros, dando-lhe uma posição confortável na corrida que estava a fazer pelo cargo com Yoo Myung-hee, a actual ministra do Comércio da Coreia do Sul.

O veto de Donald Trump à candidata africana não foi propriamente uma surpresa porque os EUA mantêm, desde que este chegou ao poder, em 2016, uma violenta ofensiva contra a OMC por causa do seu posicionamento face à guerra comercial entre Washington e Pequim.

Os dois países, que são as duas maiores economias do mundo, estão em conflito comercial há pelo menos 3 anos, com os EUA a aplicarem taxas agressivas sobre mais de 300 mil milhões de dólares em bens importados da China enquanto o gigante asiático responde à agressão com taxas sobre mais de 150 mil milhões de bens Made in USA.

Face a este posicionamento dos EUA contra a candidata a secretária-geral do organismo que rege e determina as regras do comércio global, no horizonte cresce a possibilidade de um impasse de meses, ou mesmo de anos.

Isto, porque os EUA estão a viver um período eleitoral onde Donald Trump tem a sua recondução no cargo tremida face ao democrata Joe Biden, que tem uma vantagem clara, embora pequena, na contagem de votos em quatro estados decisivos, como o Novo Jornal explica aqui.

Se Trump ganhar, apesar de tudo indicar o contrário, a OMC terá de encontrar uma solução alternativa ou a engrenagem estanca para os próximos quatro anos, mas se o ainda Presidente perder, como tudo indica que vá suceder, este impasse poderá terminar em Janeiro, quando o novo Presidente assume o cargo oficialmente.

Recorde-se que Donald Trump nunca visitou, nestes quatro anos, o continente africano e tem sido citado a fazer declarações pouco lisonjeiras sobre esta geografia, como aquela onde compara os países de África a "buracos de merda".

Esta situação, a necessidade de encontrar uma nova liderança para o organismo, resultou da demissão, por iniciativa do próprio, do brasileiro Roberto Azevedo, que alegou problemas pessoais para deixar de dirigir a Organização Mundial do Comércio.