Os elementos estruturantes do Sentido de Estado dizem sempre respeito ao compromisso com o interesse público, nomeadamente através da especial atenção dada ao bem da nação, da sociedade e das instituições democráticas, mesmo quando isso implique sacrifícios pessoais ou políticos. A existência de uma visão a longo prazo. Olhar para além do tempo presente e construir decisões que sejam capazes de fortalecer o desenvolvimento sustentável cujo objetivo visa proteger as gerações futuras.
O respeito pelas instituições e a sua valorização e proteção exige a garantia de um funcionamento independente e ético. Falamos da Justiça, do Parlamento e da Constituição. Toda a acção governativa deve ser orientada no sentido da integridade, transparência e lealdade à missão pública e não em benefício próprio ou de grupos específicos e alinhados. A capacidade de mediar conflitos e agir com rigor e equilíbrio são factores de promoção da neutralidade que favorecem a paz social e a coesão nacional desconstruindo as paixões ideológicas. Feita esta brevíssima explicação, o sentido de Estado distingue o estadista do político comum pois o primeiro governa com a nação no coração e com base na honra, enquanto o segundo pode agir apenas com base em interesses pessoais ou partidários.
Infelizmente não é este Sentido de Estado, na verdadeira acepção da palavra, utilizado pelas diferentes governações do MPLA desde a Independência. O que assistimos é a uma usurpação das responsabilidades das instituições do Estado que se tornaram reféns dos humores do palácio e que apenas decidem o que o palácio autoriza.
Uma das mais bizarras faltas de Sentido de Estado é vermos um governo inteiro todas as semanas no aeroporto a dizer adeus a SE Sr. Presidente da República, que já deu provas de que é um verdadeiro explorador do espaço aéreo, sem que a maioria das viajens traga qualquer vantagem para o país, à excepção de excesso de bagagem com as pastas de Acordos Bilaterais que tardam em acontecer e muitos ficam-se pela intenção.
Uma das figuras que se destaca nesta palhaçada é a presença assídua e comprometida com esta missão de SE a Sra. Vice-Presidente, que tirando esta ingente tarefa de acenar para o avião, não lhe conhecemos nenhuma responsabilidade que tenha sido importante e que tenha contribuído para justificar o seu salário. Com honestidade também vemos a Vice-Presidente a representar o Presidente da República em enterros, tomadas de posse ou reuniões de onde não sai nenhum sumo que possamos beber. À Vice-Presidente deveria ter sido dada uma responsabilidade efectiva que fosse para além de receber entidades religiosas e acenar para o avião a decolar. Devia ficar a olhar para as crianças angolanas já que o INAC se tornou um verbo de encher. Como Mãe Grande devia estar ao lado da defesa das meninas violadas, das que não podem ir à escola em tempo menstrual porque não há casa de banho devido à ausência de água. Devia ter a responsabilidade de proteger o ODS 4 no que diz respeito à universalização do ensino pré-escolar em Angola, meta que hoje apenas abarca 11% das crianças até aos 5 anos e que foi aceite por Angola que até 2023 100% das crianças nesta faixa etária teriam acesso.
O Sentido de Estado em Angola fugiu à regra. Pauta-se sobretudo pela arrogância da governação, sobretudo da Presidência da República, que já se mostrou incapaz de realizar o milagre económico, o fortalecimento da democracia, o respeito pela Constituição e sobretudo a atabalhoada luta contra a corrupção que nem tem os antigos corruptos, cujos nomes o Presidente da República disse que eram conhecidos, nem dos "agora é a minha vez" que à vista desarmada bebem leite e não têm cabras. Os sinais exteriores de riqueza são obscenos, quando uma nação inteira não come duas refeições por dia e nem sonha em viajar pois o passaporte também fugiu do Sentido do Estado.
Só com verdadeiro e rigoroso Sentido de Estado Angola se tornará um país soberano que não anda pelos quatro cantos do mundo de mão estendida. Só com Sentido de Estado assente no patriotismo e no orgulho de ser angolano Angola poderá ser reconhecida como uma Estado responsável que não vende o porco quando sabe que precisa do chouriço. O Sentido de Estado que precisamos é aquele onde ninguém fica para trás. Onde todos os anos milhões de pobres saem dessa condição porque são eles a prioridade e não o betão ou os contínuos ajustes directos para coisas supérfluas.

Um dia irá aparecer o Presidente que Angola merece. Uma pessoa magnânima, corajosa, inteligente, com perspicácia e que já trará um plano de construção de um país para todos debaixo do braço, sem o concurso absurdo de consultores pagos a preço de ouro que só nos conhecem no mapa. Esse dia não está longe.