Desde as primeiras horas que Donald Trump e os Estados Unidos da América se alinharam na frente de combate internacional, ao lado de Juan Guaidó, quando este, a partir do cargo de Presidente da Assembleia Nacional, se autoproclamou Presidente interino da Venezuela com o objectivo claro de derrubar o regime de Nicolás Maduro.

Com os EUA surgiram um grupo de países latino-americanos, com o Brasil e a Colômbia entre os mais activos, e o Canadá, juntos no denominado Grupo de Lima, a exigir que os chavistas bolivarianos de Maduro deixem o poder na Venezuela, tendo o Presidente Donald Trump vincado esse apoio com a ameaçadora frase: "Todas as opções estão em cima da mesa!".

Mas, se os EUA estavam, pelo que a frase aparenta, dispostos a avançar para uma intervenção militar externa para depor Maduro, Brasil, Canadá ou os países europeus alinhados contra o regime bolivariano de Caracas disseram logo que não estavam de acordo.

Agora, depois de quase dois meses de pressão internacional - Juan Guaidó assumiu-se Presidente interino a 23 de Janeiro -, parecendo que Maduro e o seu regime estão a conseguir aguentar a pressão, até porque contou de imediato, também, com apoios de peso, como a China, a Rússia ou ainda do México e de Cuba, perante a chegada de militares russos a Caracas, este jogo de periclitante equilíbrio poderá sofrer uma reviravolta.

Para já, a Rússia, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, disse que a presença militar russa em Caracas - foram filmados aviões russos militares no aeroporto de Caracas e a sua presença não foi negada - está devidamente legitimada porque foi pedida pela legítimo Governo venezuelano.

Nos aviões russos, segundo a Reuters, crêem os serviços secretos ocidentais, viajaram de Moscovo cerca de 100 militares das forças especiais e especialistas em cibersegurança, depois de Nicolás Maduro ter acusado os EUA de estarem por detrás dos ataques cibernéticos ao país, provocando pelo menos dois apagões gigantescos que deixaram o país à luz da vela.

Tensão em escalada

Com esta presença militar russa naquilo que historicamente - imagem que foi criada durante a Guerra Fria - é o quintal dos EUA - a América Latina -, a tensão ganhou um claro ímpeto, deixando ainda mais vincada a imagem oriunda das décadas de 1970 e 1980, quando o mundo estava dividido em dois polos ideológicos.

Agora estão com Maduro a Rússia, a China e Cuba, e com Guaidó, os EUA, a maioria dos países sul-americanos e centro-americanos e os seus tradicionais aliados ocidentais e europeus.

Para Maduro, Guaidó é uma "marioneta" dos EUA.

"A Rússia tem de sair", disse Trump na quarta-feira, na Casa Branca, na Sala Oval, a mais formal das dependências do edifício que define a natureza do poder nos EUA, onde estava com a mulher de Juan Guaidó, Fabiana Rosales, com quem conversava sobre a situação no país centro-sul-americano.

Confrontado pelos jornalistas sobre a forma como pretende garantir que os militares russos vão deixar Caracas, o Presidente dos EUA voltou a usar a frase que abrange todo o leque das interpretações possíveis, incluindo o recurso à força militar: "Todas as opções estão em cima da mesa!".

Na resposta a esta provocadora frase de Trump, o Kremlin, através de uma porta-voz, veio dizer aos EUA para retirarem as suas tropas da Síria antes de dizerem à Rússia para retirar da Venezuela.

Com esta frase, citada pela Reuters, Maria Zakharova, que falava em nome do Governo russo, colocou a situação na Venezuela no mesmo patamar da que se vive na Síria, onde uma abrasiva guerra civil já fez centenas de milhares de vítimas e que já dura há vários anos, com diversas forças de países estrangeiros a ocupar o território sírio.

A Venezuela atravessa uma profunda crise económica e social, com a fome a espalhar-se rapidamente entre a população do país com as maiores reservas de petróleo do mundo, onde faltam medicamentos básicos nos hospitais e a luz em casa é já uma raridade, fazendo com que, segundo a ONU, já quase 4 milhões de pessoas tenham deixado o país.