A história de Katwe, que é um dos bairros do Uganda, é idêntica a de muitos bairros cá da banda, tanto que o filme podia ser gravado num bairro à vossa escolha, tais são as semelhanças que dariam inveja aos jingongos mais parecidos e onde só com muita luta, aprendizado, motivação, superação e espírito solidário mais forte que o arábico da Konda se tornaria possível melhorar e viver de facto! Casas de chapa (ou nem sequer já isso) com o chão como cama, falta de tudo (água potável e canalizada, luz, transportes, segurança, saneamento básico, escolas e salas de aulas, hospitais e assistência médica e medicamentosa, emprego, dinheiro, esperança, oportunidade, até de crença há falta), onde o que há é sustentado pela informalidade que guia as vidas das famílias desestruturadas e destruídas que muitas vezes são "chefiadas" por crianças que "cuidam" de outras crianças, quando estas não vão às ruas em busca do pão para enganar um pouco a fome que as acompanha desde o nascimento, tanto que nem sabem o que é não ter fome, acham normal dormir, acordar e passar o dia com fome, sem saber se no sonho é possível viver sem fome.
A vida em Katwe é precoce, tanto como as crianças que são engravidadas sem ainda saberem crescer. Algumas nem sempre conseguem criar os filhos, outras, no entanto, não têm a mesma sorte, perdem de forma propositada ou acidental, quando não acontece tal infortúnio, sucumbem no parto, por não haver condições para darem a luz. Quem é e onde está o pai? O filme não diz o paradeiro de todos os pais, só de alguns, alguns presentes, outros ausentes da vida e muitos sumidos que nem sequer sabem e querem ser pais, são apenas portadores e nada mais, abandonam mãe e filho, tornando-o órfão de pai vivo sem ter tido escolha alguma.
(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)