A morte do empresário, mecenas, um dos maiores coleccionadores de arte africana e esposo da empresária angolana Isabel dos Santos, dominou os meios de comunicação mediática, gerando muitos textos, debates e teorias sobre a actividade de mergulho. Por causa disso, e com ironia à mistura, cheguei a dizer, via Facebook, que em menos de 24, Angola se tinha tornado no País com mais experts em mergulho.
O Novo Jornal "mergulhou" no mundo daqueles que fazem da prática do mergulho subaquático mais do que uma profissão, uma forma de ser e de estar na vida. Mergulhar é explorar novos mundos, é como uma fuga deste nosso mundo em busca de novos espaços e novos prazeres. Mergulhar é ter o mar como fonte de energia, mais do que um escape é também um ponto de equilíbrio. Mas ser mergulhador é uma profissão de risco, e em Angola é ainda pouco valorizada e quase sem regulamentação.
João Tavira Lopes "João Mulato", Ngiva António e António José Alves Martins "Tozé" são apenas três nomes, mas que representam todo um núcleo de profissionais e entusiastas do mergulho em Angola. Eles trazem para a terra um grito de revolta e indignação que há muito andou "afogado" nas profundezas dos mares, revelam-nos uma maré de injustiças em termos de condições salariais e de trabalho.
O desencanto com a profissão, a falta de valorização e o reconhecimento do seu trabalho, a utopia de um processo de angolanização que vai encontrando várias resistências por parte do patronato com a "conivência" de certa inércia de quem deve fazer cumprir as leis vigentes no País. Aquilo que começou como uma paixão de infância e que em adulto se fez profissão está bem perto de se tornar numa frustração. Todos eles com quase 25 anos de experiência profissional, mas ainda lutando para derrubar uma barreira institucional que vai atirando para as profundezas destes mares inegáveis direitos. O que aqui é narrada são histórias com os bons e maus da fita, mas que sempre podem ter um final feliz. Esta é uma profissão de risco, com limites do ponto de vista biológico, mas cuja paixão se sobrepõe sempre aos receios e às tais injustiças.
A morte é a única certeza da vida, a morte continua a ser um mistério, a morte ensina-nos muito sobre a vida. A fascinante fronteira entre os que são da terra e aqueles que são do mar levou-me a ouvir um dia um velho pescador dizer na praia da Kamuxiba (Samba- Luanda): " Aquilo que não é do mar, o mar devolve a terra". É que, apesar dos riscos, das dificuldades, da falta de apoios e de valorização, estes homens encontram energias, arte e engenho para desenvolver projectos de responsabilidade ambiental e social.
A revelação é feita através do trabalho de criação de recifes artificiais e accões pedagógicas contra certos tipos de formas de pescas perigosas e nocivas ao meio- ambientes, que contava com o apoio e incentivo de Sindika Dokolo, bem como a vontade de continuar a perpetuar a memória de um companheiro de mergulho que partiu prematuramente, mas também para presente a paixão pelo mergulho, que, apesar daqueles que infelizmente os mares vão levando, vai fazendo que aqueles que ficam reforcem a irmandade, tirem os pés da terra e mergulhem noutros mundos. É este mundo muito pouco conhecido, são estas narrativas, realidades, factos e protagonistas que o Novo Jornal traz aos seus leitores. Mergulhem connosco nesta aventura.