A imagem de mudança de panos é apenas simbolismo, é pura cosmética, pois a mudança é muito mais profunda. Não se trata apenas de uma mudança de gerações, é também uma mudança de visões e de estratégias. Joana Tomás não foi a escolha de Inga, e isso " todas as mães já sabem". Ela foi uma escolha do líder do MPLA. João Lourenço é que impôs a sua escolha ao Bureau Político do seu Partido, que teve de aceitar a "visão estratégica" do líder. Tanto que houve algumas reacções adversas e guerras surdas internas. Mas esta imposição do líder é resultado de uma estrutura que não se renovou quando devia, que resistiu aos sinais de renovação, mesmo quando os momentos indicavam ser este um caminho necessário. E aí as actuais lideranças da OMA devem fazer mea culpa, pois resistiram aos sinais que o tempo lhe foi dando e não adoptaram a estratégia de renovação geracional. Quer-se hoje uma OMA virada para os novos desafios do País e do mundo, em geral, uma instituição com um discurso apelativo e capaz de atrair um eleitorado ou geração mais jovem.
Nos últimos tempos, a OMA passou a ser vista como uma instituição muito envelhecida e arcaica, tanto na maneira de pensar e de actuar. É certo que, para alguém como Inga que liderou da OMA durante tanto tempo, não será fácil lidar com a situação de perda de poder e influência dentro da estrutura.
Quando assumir o poder em Março próximo, Joana Tomás terá perante si grandes desafios. O primeiro será o da renovação da estrutura feminina do MPLA, depois o da estratégia que irá levar ao Congresso Ordinário do MPLA em Dezembro deste ano e depois preparar e "olear" a máquina para as eleições de 2022. Terá de ter a visão, lucidez e perspicácia para ultrapassar as "makas" internas para se focar nos grandes desafios da sua organização. Contrariamente ao que disse em entrevista à TV Zimbo sobre a questão geracional, a sua indicação não será uma simples questão de colocar "óleo novo em motor velho". Não! João Lourenço não quer um "motor de ocasião", quer mesmo um motor novo para estar na pole position da corrida eleitoral que se avizinha. Outro importante desafio será o da democratização da estrutura, o alargamento do diálogo e a criação de espaços para o debate interno.
Contrariamente ao que deixou transparecer na entrevista à TV Zimbo, Joana Tomás também precisa de redireccionar o discurso e perceber que o facto de ser uma organização feminina de um partido não faz da OMA uma organização feminista. As ditas candidaturas ou candidatas únicas são, também, um grande desafio e apelo à democratização interna, não se percebendo que nos tempos actuais ainda se procure condicionar liberdades de votos e criar a ideia de pensamento único, quando até se sabe que as unanimidades são perigosas. A situação de unanimidades públicas e divergências privadas em nada ajuda ao crescimento institucional. Outro pormenor importante é que, como jornalista, Joana Tomás terá de estar preparada para o escrutínio público, deixando de lado a mentalidade de trincheira que ainda impera na política nacional: quem não é por nós é contra nós.
A indicação de Joana Tomás é parte de uma estratégia de João Lourenço em romper com uma certa ala ainda hegemónica no MPLA e cuja "capitulação" está a ser preparada já para o congresso ordinário de Dezembro próximo. Esta mudança de panos, mais do que uma passagem de testemunho, pode ser um amarrar de panos para um "komba" político que se avizinha. Este é um fardo, ou seja, um pano que Joana Tomás vai ter de carregar em Março é já ao virar da esquina. Vamos acompanhar, pois ainda há muito pano para mudar.n
Nota: No passado dia 25 de Janeiro, o Novo Jornal assinalou os seus 13 anos
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