Esta denúncia pública do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), do Fórum das Mulheres Jornalistas, do MISA Angola, da Associação de Imprensa Desportiva (AIDA) e da Associação dos Comunicólogos de Angola (ACAN) traz à tona os efeitos perniciosos do simulacro democrático.

No referido comunicado, os jornalistas angolanos, inteligentemente, manifestam preocupação com a nacionalização dos principais órgãos privados de comunicação social, levada a cabo pelo Governo.

Lembram que "a Liberdade de Imprensa não é apenas uma componente essencial dos regimes democráticos, como o grau de democraticidade de um Estado é também aferido pelo grau de efectividade de Liberdade de Expressão de que gozam os seus cidadãos".

A nacionalização desses órgãos, sob pretexto de terem sido constituídos com dinheiros públicos, em vez de ser uma boa notícia parece mais um presente envenenado dado aos angolanos, quando se percebe que a censura, auto ou heterogénea, tem lugar cativo nos órgãos sob controlo do Executivo.

Esses confiscos criam as condições, para que a totalidade da Comunicação Social actue em sintonia perfeita com o poder, perigando a liberdade editorial.

Com esse passo perigoso para a democracia, por um lado, prepararam-se as acções necessárias para a inviabilização e aniquilação de qualquer tentativa de construir uma sociedade plural.

Por outro lado, garante-se a manutenção no Poder dos actuais inquilinos da Cidade Alta, retirando aos cidadãos angolanos as condições para uma escolha livre, informada e consciente, o que consubstancia uma fraude política.

Porque estamos próximo das eleições, as mais decisivas da curtíssima História das Eleições angolanas, o Poder, com a obsessão de parecer imaculado aos olhos do eleitorado, enveredou pelo caminho óbvio nestas situações: matar o mensageiro.

Se a isso somarmos a revolta expressa da sociedade civil com as mortes constantes causadas pela violência policial, a crescente e visível miséria humana, um combate à corrupção que não está alicerçado na transparência, na lisura, é caso para dizer que a podridão ainda vai no adro.

Estando o País em bancarrota, sem dinheiro para acudir as necessidades básicas das populações, esperava-se que imediatamente a seguir à "boa acção" do confisco desses órgãos, o Estado iniciasse um processo conducente à sua reprivatização.

Constituindo a Comunicação social livre um dos baluartes da Democracia, é contra-senso o seu destino ficar nas mãos de meia dúzia de governantes, num País de pelo menos 30 milhões de habitantes, onde há gente preparada, interessada e disponível que devia ser chamada a pronunciar-se, mas é excluída.

Parafraseando o intelectual angolano Luís Kandjimbo, em Idiogramas de Nganji, "uma das primeiras manifestações dos equívocos angolanos a respeito da democracia prende-se com a desnecessidade da crítica. Mas a crítica é irmã da liberdade e da própria democracia"

Porque não ouvir quem de direito quando se trata de questões estruturantes da sociedade? Porquê continuar a agir como se fossem questões conjunturais?

Até porque, como escreve Elísio Macamo, sociólogo moçambicano, "governar sem ouvir a opinião dos que são governados não é governar. É algo muito próximo da imbecilidade, pois não é possível que um punhado de gente pense que não haja, entre milhões de pessoas, mais ninguém que possa contribuir (com) algo útil".

Essas nacionalizações consubstanciam a machadada final à Liberdade de Imprensa, porquanto os media em causa passam a ser geridos pelos mesmos métodos usados para a gestão dos outros órgãos públicos que mais não são do que caixa de ressonância do poder.

Mais do que o aborto do embrião da democracia, é também a morte do próprio o jornalismo, uma profissão de referência nas sociedades livres, e que tem no pluralismo a essência da sua vitalidade.

Quando o Poder político, através dos media, controla o que cada um deve ler, ver, ouvir e saber em termos de informação, estamos perante a desumanização, coisificação, infantilização dos cidadãos.

Não é apenas uma tentativa de estupidificação dos cidadãos, constitui, sobretudo, um acto de opressão e repressão das consciências.

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