A "goleada" com que José Venâncio foi brindado surpreende pela obesidade dos números. Provavelmente nem a Lista B, autodenominada de "Mudança", estivesse à espera de um triunfo tão expressivo, tão categórico, tão contundente. O que aconteceu foi pancada séria. Se fosse no boxe, a vitória seria por KO, logo no primeiro assalto. As cifras são inequivocamente esclarecedoras e falam muita coisa, alto e bom som, a começar por desmentir a narrativa segundo a qual a FAAND é a melhor federação do País, em particular, e de África, em geral. Mais: a maior parte dos escassos votos da Lita A podem ter sido "votos de afectos". Ou seja, de quem tem relação sentimental com o candidato ou com alguém da Lista. Portanto, voto emocional e não racional.

A Lista A tinha no seu elenco quase toda a direcção do elenco cessante, à excepção do presidente de direcção, de dois vogais e do presidente do Conselho Fiscal. Os três últimos integraram a Lista B. Ora, em se tratando de dar continuidade ao "excelente" trabalho desenvolvido pela "melhor federação", o que se esperava era que a "Lista da Continuidade" triunfasse, ou pelo menos não perdesse de forma tão concludente. Ao não ter sido concretizado esse cenário, está claro que algo não vai bem. Como se diz em desporto, quando se ganha não, está tudo bem e quando se perde, também não está tudo mal. O que quer dizer que as vitórias dentro das quadras podem ter maquilhado situações gravíssimas. Só assim se entende a valente tareia que José Venâncio levou.

O mais provável ter acontecido no pleito da FAAND é que os eleitores se fartaram de promessas nunca cumpridas e castigaram de forma severa e inclemente a "Lista de Continuidade". O que aconteceu foi o grito de revolta de clubes que treinaram sem bola ou com bolas de ténis de campo, porque não tinham bolas de andebol, de emblemas que nunca conheceram uma escada de agilidade no treino, de Associações Provinciais que fizeram uma temporada inteira com quatro bolas, de árbitros que tinham de pedir apito emprestado para dirigir partidas, de dirigentes que nunca viram alguém da FAAND na sua província... Os eleitores disseram basta e deram um pontapé no traseiro de quem esteve no poleiro nos últimos quatro anos.

No futebol, a "Lista da Situação" é liderada por Artur Almeida e Silva, que briga para a sua própria sucessão. Tal como no andebol, aqui também o passivo, traduzido no incumprimento de promessas feitas há exactos quatro anos, é quilométrico. Coincidentemente, quase 50% dos eleitores do futebol são os mesmos do andebol. Porém, mais de 90% da população votante é composta por associações e clubes que jamais receberam a visita de um integrante dos órgãos sociais da Federação Angolana de Futebol (FAF), nem para dar uma satisfação relativamente ao incumprimento de uma ou outra promessa! Ou para receber uma palavra de conforto.

Cônscio do desprezo a que votou associações e clubes, Artur Almeida e Silva agora joga tudo quanto está ao seu alcance (e o que não está também) para continuar à frente dos destinos da FAF. Cola-se (abusivamente) à imagem do presidente da FIFA, para dar a impressão de "intimidade" com o "número 1" do futebol mundial e fala de uma "injecção" milionária de fundos públicos no futebol, algo que até agora não foi confirmado pelas autoridades governamentais, o que pode ser um embuste. Usa esses dois engodos para seduzir o eleitorado.

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