O caminho que o elenco ora eleito tem pela frente está prenhe de escolhos. O presidente eleito da FAB e o elenco que o acompanha terão muita perda para partir. Um dos obstáculos maiores é devolver a dignidade do basquetebol nacional na competição continental. Esse desiderato não significa necessariamente vencer o "Afrobasket" masculino. Afinal, durante as três últimas décadas em que o país reinou de forma hegemónica em África não ganhou todos os campeonatos. Houve vezes em que perdeu. Mas com dignidade, como aconteceu no Senegal"97 e na Tunísia"15. Depois disso, começou a queda e em 2017 Angola ficou pela primeira vez fora do pódio continental, onde havia permanecido exactos 30 anos, desde 1983.

A aspereza da tarefa que espera por Moniz e pares pode, desde já, ser aferida pelo risível número de praticantes da modalidade em Angola. O país tem uma população estimada em mais de 32 milhões de habitantes e possui 203 atletas masculinos e 88 femininos. Se somarmos todos os escalões em ambas as categorias, o número continua, ainda assim, raquítico: 1.688. Isto quer dizer que apenas 0,005% da população pratica basquetebol, supostamente a segunda modalidade mais popular entre os angolanos. Isso é quase zero. Se formos rigorosos e a essa cifra subtrairmos uns 15%, respeitante aos seniores inactivos em ambas as classes, o cenário é bem mais dantesco.

Mas não é tudo. O buraco é ainda mais fundo, se atentarmos ao número de equipas em competição no escalão principal. São oito em masculinos e seis em femininos, sendo que aqui há duas formações que são uma espécie de "bebés-proveta". Trata-se do 1.º de Agosto B e do Interclube B. Num passado não muito distante já houve 12 e oito emblemas, respectivamente. E não menos assustador é o facto de tanto em masculinos como em femininos haver equipas que sequer completam o número máximo regulamentar de jogadores para um jogo, que é de 12. Em Benguela há uma equipa feminina com 11 atletas, acontecendo o mesmo no Namibe com uma masculina.

Haverá seguramente alguém a acusar-me de dramatismo excessivo. Para essas pessoas, convém apresentar alguns dados insertos no livro que brevemente publicarei, cujo título é Caminhos do Basquetebol em Angola (1930-1975) - Vol. I. Há mais de meio século, em 1962, ano em que os campeões das províncias ultramarinas de Angola e Moçambique começaram a participar nos Campeonatos de Portugal, o número de praticantes da modalidade entre as nossas quatro paredes era de 1.062 jogadores, dos quais 305 do sexo feminino, escalão então unificado. À época, Angola contava 5,6 milhões de habitantes, representando os basquetebolistas 0,018 % da população.

Uma década depois, quando Angola tinha 6,2 milhões de habitantes, e ainda com um sistema de disputa de concentração, em termos absolutos os números não eram grande coisa. Superavam, porém, os actuais. Havia 258 atletas seniores masculinos, distribuídos por cinco províncias e inexistiam equipas com apenas 11 jogadores. Sequer havia formações ociosas, sem competir, como acontece agora. Se não jogassem nos "Distritais", faziam-no nas qualificativas para a fase final do "Provincial" (hoje equivalente ao "Nacional"). E nos anos seguintes o número de praticantes aumentou substancialmente em virtude do chamariz que constituiu a entrada dos primeiros americanos na competição doméstica, em 1971, e também devido à disputa da I Divisão em formato de Liga, com oito emblemas, em vez do sistema de concentração, com quatro competidores a disputarem o título numa fase final a duas voltas, em apenas uma semana.

Naquela altura, Angola era o elo mais fraco do basquetebol português em masculinos. Em 12 edições conquistou apenas um título, algo que aconteceu de forma quase fortuita em 1967 pelas mãos do Benfica de Luanda, que depois iria representar Portugal na Taça dos Campeões Europeus. Moçambique, por seu turno, embolsou quatro e a Metrópole, como então se designava Portugal continental, arrebatou seis - não foi atribuído o título de 1966 (ganho na quadra pelo Sporting de Lourenço Marques) devido a makas de secretaria.

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