Analistas do sector dizem que a proposta de mudança nas regras comerciais pode produzir efeitos adversos às empresas norte-americanas, uma vez que pode forçar a Huawei a desenvolver a sua própria cadeia de fornecedores. Um relatório da Boston Consulting Group afirma que uma nova escalada no controle de exportações dos EUA para a Huawei resultará no fim da liderança dos EUA em termos de produção de semicondutores (microchips) e, consequentemente, desagregar as indústrias de tecnologia dos EUA das da China.

Força Motriz do Desenvolvimento

O sector de semicondutores é amplamente reconhecido como um dos principais vectores e facilitadores do desenvolvimento tecnológico para toda a cadeia de valor do mercado global de electrónicos. Com a expansão da indústria de tecnologia e o aprofundamento da cultura de inovação, o continente africano tem demonstrado o seu potencial competitivo, antecipando-se para que venha a desempenhar um papel importante do ponto de vista tecnológico num futuro próximo.

Como é que esta mudança de regras, proposta unilateralmente pelos EUA, prejudicaria o sector tecnológico da África, em rápido crescimento?

Em 2019 esperava-se que o mercado global de semicondutores contraísse 12% em função das incertezas económicas geradas pela guerra comercial EUA-China. Este ano, a pandemia de COVID-19 tem aumentado as perdas da indústria global, num momento em que a International Data Corporation (IDC) prevê, segundo um recente relatório, que a indústria de semicondutores vá contrair-se 6%.

A nova estratégia proposta por algumas autoridades norte americanas criará, sem dúvidas, mais incertezas na indústria global de semicondutores, a peça central das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação). Os avanços da tecnologia de semicondutores é que tornam possíveis novas tecnologias como a inteligência artificial, 5G e Internet das Coisas, serviços que têm desempenhado um papel crítico no desenvolvimento económico-social do nosso continente. Quando a pandemia do COVID-19 terminar, é previsível que as TICs e a economia vão desempenhar um papel crucial na recuperação económica.

Não é permitido cozinhar na sua própria cozinha com uma panela americana

Se observarmos atentamente a mudança de regras proposta, podemos ver que ela visa impor restrições ao uso de equipamentos que já foram vendidos. Esta decisão colocará em causa, de maneira irreversível, os princípios básicos do comércio internacional. A mudança das regras pós-venda acabará com a confiança na cadeia global de abastecimento, anulando, da noite para o dia, normas e regulamentos estabelecidos há várias décadas. Escusado será dizer que a Africa também será uma vítima.

A cadeia de valor global de semicondutores levou décadas para ser construída sendo que a sua produção e comercialização são altamente interdependentes e nenhuma empresa ou país, por si só, pode construir uma cadeia de abastecimento de abrangência global.

No cenário imposto por estas novas regras, se uma peça ou equipamento de origem americana, digamos uma chave de fenda comprada nos EUA há algum tempo, fosse usada em qualquer etapa da produção de semicondutores (microchip), os fabricantes de chips fora dos EUA teriam que obter aprovação do governo norte americano.

Isso equivale a dizer que, por exemplo, não é permitido fazer máscaras faciais durante a pandemia de coronavírus, porque um par de tesouras compradas nos EUA foi usado na linha de produção destas máscaras. Essa situação deteriorará ainda mais a economia global já atingida, quando necessitarmos, urgentemente, de uma cadeia de valor global aberta, colaborativa e estável.

Participação de África na produção de semicondutores

De acordo com um relatório da Deloitte, esta indústria global deve continuar a crescer expressivamente na próxima década devido a tecnologias emergentes, como os carros autónomos, inteligência artificial (AI), 5G e Internet das Coisas, um crescimento que, a par do aumento consistente do investimento em Pesquisa e desenvolvimento, vão estimular a competição entre os principais operadores do mercado.

O mercado global do sector proporciona, ao continente, várias oportunidades imperdíveis, num contexto de crescimento expressivo em centros de tecnologia em todo o continente em mais de 50% nos últimos anos pelo que, a África, precisa ter uma participação na indústria global de semicondutores, para garantir a sua competitividade no futuro.