Os livros contêm histórias aprisionadas, universos agrilhoados, que só se libertam quando alguém os lê. Como se os nossos olhos, ao percorrerem as linhas dos livros que temos entre mãos, permitissem, através de um exorcismo peculiar, que os seres inertes, as paisagens inermes, que, um dia, surgiram e se digladiaram na mente fantástica do autor, e que ele congelou com a ponta da sua pena, ou dos seus dedos, ganhassem vida, ao integrar o nosso imaginário. Ao transformar cada um que com elas entra em contacto. Ao passar a fazer parte de cada um dos leitores.

Ao ler um livro somos artesãos, construtores de personagens, seguindo as linhas mestras definidas pelos criadores, mas dando-lhes o ar de autenticidade que a nossa própria experiência, a nossa vivência, e (quantas vezes) os nossos preconceitos, lhes atribui. Somos os pintores dos ambientes em que elas evoluem. Das paisagens grandiosas ao quarto escuro, que assumem as proporções que as nossas mentes lhes conseguem conferir. Autenticando-as. E aí temos a grande diferença com a experiência do teatro, ou do cinema, onde os nossos graus de liberdade são afectados pelos sons que ouvimos, pelas personagens que nos são impostas. Ocasionando a quase inevitável decepção ao ver um filme baseado num livro que já lemos. Que já vivemos. Na grande maioria dos casos, fica-nos a sensação de fraude. De incompletude. De distorção de uma realidade que já tínhamos construído na nossa cabeça, e emocionalmente assumido.

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