Diante das mais recentes publicações, seleccionámos três livros: África em Transformação (Edições Tinta-da-china), de Carlos Lopes, que, entre outros cargos, chefiou a Comissão Económica das Nações Unidas para África na ONU e foi conselheiro de Kofi Annan, sendo, actualmente, professor catedrático.

A segunda tem por título O Cabo do Mundo - O Daesh em Moçambique, 2019-2020 (Edições Don Quixote), de Nuno Rogeiro, conhecido analista e profundo conhecedor do tema que aborda.

Finalmente, a de Leonor Figueiredo, jornalista conceituada, publicou o livro intitulado Fraccionismo - quem disse o quê no «Jornal de Angola» antes e depois do 27 de Maio de 1977 (Edições Elivulu).

Estas três publicações são de leitura obrigatória para quem se interessa pelas questões de África.

No caso do livro de Carlos Lopes, o autor parte do princípio de que "o crescimento económico, só por si, tem-se revelado insuficiente para o desenvolvimento de África" e apresenta-nos oito desafios que considera fundamentais, para um novo modelo de desenvolvimento.

Este modelo, que impõe mudanças de política, deve assentar numa linha estratégica clara e não meramente conjuntural, que, entre outros objectivos, contribua para criar uma efectiva diversificação económica e emprego, não podendo deixar de atender também à industrialização, como factor de transformação.

O respeito pela diversidade, a compreensão do espaço político, o aumento da produtividade agrícola e a adaptação às alterações climáticas são alguns dos desafios que aprofunda, sem nunca perder de vista a erradicação da pobreza e o combate às desigualdades.

Neste período tão incerto, o livro de Carlos Lopes é um contributo sério para a reflexão de todos aqueles que têm responsabilidades de direcção nos países africanos.

Nuno Rogeiro, autor do segundo livro, fala-nos sobre o Daesh em Moçambique e explica-nos, com clareza, as razões que o levaram a escrevê-lo.

Dada a gravidade do problema que se vive na região de Cabo Delgado, mas com implicações de progressiva desestabilização no Sahel, nos Grandes Lagos e na África Ocidental, é sua convicção que "o problema não desaparece só porque deixamos de falar nele", mas ao invés, o silêncio oficial das autoridades moçambicanas só se compreende se for olhado de forma primária, uma vez que "a revelação do problema faz que haja aceitação natural das medidas a tomar".

Daí a cuidada caracterização que apresenta sobre as graves ameaças existentes, explicitando, com precisão, a natureza, a organização e as ligações da estrutura terrorista do Shabaab com ligações ao Daesh e que actua em Cabo Delgado.

O silêncio da informação sobre as acções e a organização de um adversário tão cruel como o Daesh dificilmente poderão conduzir melhor as forças que o combatem a fazer convergir todas as sinergias a uma estratégia correcta.

Ler este livro é passar a conhecer, no âmago, uma organização de que só tomamos conhecimento superficial pelos media.

Por fim, o terceiro livro, da jornalista Leonor Figueiredo "Fraccionismo", lançado no passado dia 27 de Maio, respeita os trágicos acontecimentos que enlutaram os angolanos nesta fatídica data, já lá vão 43 anos.

Esta obra é útil aos angolanos, face à necessidade de se reconciliarem consigo mesmos.

Ela reproduz, na totalidade, declarações de responsáveis do poder em Angola, proferidas no período imediatamente anterior e posterior aos acontecimentos do 27 de Maio e, com estes relacionados, retiradas do Jornal de Angola e testemunhos de presos.

O leitor pode, por si, formular um juízo objectivo dos factos, sem ser conduzido ou instrumentalizado por qualquer tomada de posição pré-concebida.

No livro, factos são apresentados como factos.

Invoco a referência neste artigo a estas três obras, muito recentemente publicadas, por sentir serem uteis à sensibilização dos leitores, pela importância que têm.

É que essa leitura contribui para maior compreensão de África e do seu futuro, num período tão incerto como aquele que se vive.