A inveja é a principal causa da nossa própria nulidade, onde o valor e o mérito alheio causam uma grande tortura. O problema dos invejosos é que não suportam a ideia de não estarem ao nível dos que admiram, e em vez de tentarem auto-elevar-se, os invejosos tudo fazem para puxar para baixo. Na verdade, eles lidam mal com o sucesso alheio ao invés de tentarem superar as suas fraquezas. A inveja é uma manifestação do medo que temos de falhar e de que o outro se dê bem. Neste constante medo de falhar, ou de ver exposta a sua falta de competência, o invejoso só se alivia quando aniquila aquele que ele considera como ameaça. Na maior parte dos casos não passam de perigos imaginários, pois os invejosos desenvolvem certa fobia aos que acreditam ser mais felizes ou profissionalmente mais bem-sucedidos do que eles.

Entre nós a inveja está a assumir proporções extremas e acho que a crise acaba por aumentar mais este sentimento. Os invejosos são solidários e amparam-se uns aos outros através da vitimização e na criação de rótulos para os seus alvos. A inveja resulta muitas vezes do facto de o valor e as capacidades alheias exporem a nossa incapacidade. Estamos a tornar-nos numa sociedade de invejosos e era importante começar a pensar-se numa estratégia de combate à inveja. Foi a inveja que dominou e influenciou negativamente a sociedade do tempo de Camões e que foi o seu último "desabafo" escrito e que enferma as sociedades actuais.

Os meios jornalísticos costumam ser muito corporativistas e pouco receptivos a "corpos estranhos". Erguem-se barreiras à entrada de novos actores ao espaço jornalístico e mediático, o "crivo corporativo" funciona na maior parte das vezes como um claro acto de censura às vozes alternativas e que pensam fora da caixa do pensamento dominante. Muitas vezes é nos pequenos poderes que se revelam grandes ditaduras. Um poder que asfixia um pensamento livre, alternativo e de valor. O medo de fazer diferente, de arriscar uma abordagem diferente porque achamos que não se pode ou não se deve ir mais além. Quando os cantores começaram a fazer aparições no cinema, houve na altura, meios mais conservadores que não viam com bons olhos tal "intromissão" mas o tempo e a máquina de marketing vieram revelar o sucesso daquilo que se veio a chamar "cantactores", basta ir buscar exemplos de Elvis Presley, no passado, para os actuais Will Smith, LL Cool J, Ice Cube, Queen Latifah; Arnold Schwarzenegger veio do fisioculturismo para o cinema; temos casos também de Hulk Hogan, The Rock e John Cena, que se tornaram bem-sucedidos no universo da sétima arte; no Brasil, o músico Fábio Jr. tornou-se um galã de telenovelas entre outros.

A narrativa de que espaços televisivos que juntam opinião e informação devem ser exclusivamente apresentados ou dirigidos por jornalistas não é uma verdade absoluta. O universo da comunicação social está cheio de exemplos e encara isso com a maior naturalidade e como um sinal dos nossos tempos. Há muito que os jornalistas perderam o monopólio da informação/comunicação e outros actores foram ocupando o espaço, e recebendo o carinho e aceitação do público. Nesta edição, o Novo Jornal revela o caso de um músico, de um cidadão, um patriota que um dia "ousou sonhar" ser apresentador de um programa de televisão, mas porque alguns sectores internos entenderam não possuir o "perfil adequado" e outros sectores das ditas "ordens superiores" entenderam não ser politicamente correcto. Os "cães ladram e a caravana passa", neste caso, passa a ser diferente: calam-se os "dogs" para que a caravana da hipocrisia e da censura passe com toda a pompa e circunstância. Maldita inveja! Maldita censura!

Nota: O escritor angolano Octaviano Correia será o director do Novo Jornal por uma semana na edição alusiva ao 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador.