A expressão, carregada de sarcasmo, mostra que, apesar de parecer incentivar, alerta para que não se deve ter determinado comportamento, porque as consequências vão ser azedas, amargas, ardentes e dolorosas para quem teime em fazer algo errado, o que fará que se peça socorro à mais velha que deu o conselho, que deu a dica.

Nas últimas semanas, tem surgido nas redes sociais virtuais um movimento que usa essas expressões das avós, mas com direcção e sentido bem diferente ao que nos habituámos, dessa vez com fortes conotações políticas, em que o visado é o Presidente da República, João Lourenço (JLo), e as próximas eleições previstas para 2022. "JLo, em 2022 vais rir!", "JLo, em 2022 vais gostar!". São apenas duas das frases mais usadas nos memes e dicas que alertam para os possíveis resultados eleitorais que podem não ser bons para o partido no poder e para o seu candidato, por causa das escolhas que os eleitores poderão fazer por altura do voto.

Essas dicas que giram nas partilhas lavadas em gostos e temperadas com comentários bem-humorados, outros nem tanto, são causadas, segundo os usuários do «slogan» da moda, por causa da forma como o País está a ser governado e que tem resultado num agravar da qualidade de vida dos cidadãos, já cafricada pela crise económica e pela actual situação provocada pelo surto do coronavírus. O desemprego, a fome, a corrupção, a criminalidade, a inflação, o mau sistema de saúde público, a saúde debilitada, entre outros problemas socioeconómicos que enfermam o País, têm sido apontados como alguns exemplos da má governação que tem sido levada a cabo há anos e que tem prejudicado o cidadão que não tem oportunidades de ser nomeado ou aquele que não tem canais para se «laifar» e sair da dibinza, ou seja, milhões de pessoas que sofrem por culpa da desgovernação, na visão dos promotores da dica.

Sempre que é tomada uma decisão governamental ou se descobre alguma medida que os cidadãos não concordem, associam de imediato o slogan "JLo, em 2022 vais rir, vais gostar!". Como exemplos, podemos citar a iniciativa da construção da clínica dentária na Cidade Alta para apoio ao PR e pessoal próximo, o que despoletou uma chuva de críticas e é, claro, o slogan veio junto: "Continua, em 2022 vais rir!". Um outro exemplo tem a ver com a aprovação de novos impostos e taxas que aumentam a carga fiscal aos cidadãos que estão a atravessar privações económicas consideráveis e que, apesar dos gritos de socorro, não se sentem ouvidos, como é o caso dos desempregados que não têm até agora um subsídio que os ajude durante algum tempo, mesmo que tenham descontado obrigatoriamente para o IRT e para a Segurança Social enquanto estiveram empregues.

Mais do que um «slogan» ou brincadeira de internet que começou a ser usada por algumas pessoas e que tem ganho muitos apoiantes, parece ser um sério aviso à navegação que está ao leme de Angola, porque os passageiros não estão a gostar de como a canoa está a ser conduzida nas águas turbulentas e que os navegantes devem ficar atentos e ver como marear melhor para chegar a bom porto, dialogando e vendo como juntos podem chegar lá com menos enjoos, Diogos chamados e outras tristezas que a um certo grupo selecto não afecta, pois estão nos lugares vips do navio com tudo de bom e de melhor, tanto que nem sentem os solavancos como quem está encafuado a ximbicar no porão. Até ao momento, não se sabe se as equipas (do Executivo e do partido no poder) estão atentas e a levar a sério essas dicas ou se estão a fazer ouvidos de mercadores. No entanto, tem-se visto que, nos últimos dias, esses «slogans» têm sido usados por militantes do MPLA para virar o jogo, como: "PR JLo, em 2022 vais gostar. O nosso voto é certo... Em 2022, vais rir, vais gostar porque o MPLA vai ganhar!". Ou seja, estão a usar as dicas ao contrário para se beneficiarem. Mas aí surgem algumas questões por causa dessa estratégia, como: até que ponto é viável ao partido usar um «slogan» que foi criado e está a ser usado contra a sua forma de trabalhar? Não devia ser preocupação melhorar o que não está bom primeiro e deixar o trabalho e os resultados falarem?

Antes que liguem a dizer "continua, vais rir!", vou continuar a acompanhar a criatividade virtual e o «bilo» dos internautas que se ameaçam com sorrisos e gostos para 2022. Só ainda não sei quantos eleitores garantiram fazer côcegas para uma das partes rir e gostar dos resultados em 2022, nem quem os terá contado!?