A partir de 1975, ano em que foi decretado o estado de sítio em Portugal, a 25 de Novembro - medida que durou dez dias -, nunca mais houve necessidade de se decretar nem o estado de sítio nem o de emergência na democracia portuguesa. O Presidente português reuniu nesta quarta-feira, 18, o Conselho da República, que, por causa do coronavírus, foi realizado por videoconferência. Ouvido o seu órgão de consulta, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu decretar o estado de emergência. Horas depois, com a maioria de votos a favor, algumas abstenções e nenhum voto contra, a Assembleia da República portuguesa aprovou o decreto presidencial que determiou o estado de emergência. Seguiu-se a sua adopção por parte do Governo, apesar das reticências do primeiro-ministro português António Costa. O estado de emergência permite que se imponham restrições à liberdade de deslocação e ajuntamento de pessoas. Os direitos democráticos podem e devem ser suspensos quando uma minoria de "incumpridores" põe em causa os direitos da maioria? Assim foi decidido. Mas Marcelo tranquilizou:

"Não é uma interrupção da democracia. É a democracia a tentar impedir uma interrupção irreparável na vida das pessoas ".

Por cá, no sábado, o Governo reuniu na sede do Governo Provincial de Luanda (GPL) com os 18 governadores provinciais para falar da estratégia de prevenção e combate ao coronavírus. Governadores com competências bastante limitadas, com uma grande dependência do poder central em termos de iniciativas e decisões, quase sem autonomia e com orçamento reduzido para as despesas com os sectores político, económico e social, têm agora pela frente um combate com um inimigo invisível e letal que tem o nome de coronavírus. Mais do que mexer com as estratégias e orçamentos, o coronavírus está a mexer com os hábitos e costumes. Os habituais e efusivos apertos de mãos, os abraços prolongados, os beijos e selfies, foram substituídos por animados toques de punhos cerrados e de cotovelos e uns "chega pra lá" com certa pitada de humor. A crise do coronavírus revela muito das nossas fraquezas em termos de organização, estratégia e comunicação, mas revela também muita da nossa capacidade de resistir e inovar perante as adversidades. Este encontro foi como uma espécie de levantamento de um "estado de consciência" nacional em que a pedagogia da prevenção e a informação desempenham um papel importante. Um "estado de consciência" nacional em que todos estejam cientes do seu papel e unidos em torno da prevenção e combate ao coronavírus. Um "estado de consciência" em que sejamos todos os protagonistas e sem espaço para papéis de vilões.

A informação é um dos maiores aliados para enfrentar o coronavírus, ela é neste momento a vacina mais eficaz para combater o medo, a ignorância e a desinformação. Esta pandemia trouxe consigo uma coisa que se chama "infodemia": quantidade absurda de informações nos média e nas redes sociais que espalha o medo e o pânico entre as pessoas. Falsas informações que, pior que o vírus, se propagam rapidamente confundindo as mensagens, as estratégias, promovendo o absurdo e desvalorizando toda e qualquer iniciativa institucional. Aquilo que se tem verificado em alguns órgãos de comunicação, plataformas digitais e redes sociais é uma verdadeira campanha de promoção do medo e alarmismo, criando-se circos mediáticos, onde a função de informar fica alienada/capturada e a desinformação fala mais alto. É um apanhar "carona" do corona para aumentar likes e partilhas.

Na noite de quarta-feira, 18, o Presidente da República, João Lourenço, entrou em cena e num discurso curto e com certa pedagogia fez o apelo às consciências.

Este coronavírus vai obrigar-nos a mudar de hábitos, atitudes, comportamentos e de consciência. Informação, rigor, disciplina, organização, estratégia, cultura de compromisso serão importantes para implementar um "estado de consciência" nacional em Angola como fizeram as autoridades e a população em Macau (um dos países afectados). O problema é quando não há consciência entre os governantes e os governados como demonstraram os tumultos da manhã de quarta-feira no Aeroporto 4 de Fevereiro, onde foi imposta uma quarentena domiciliar que se sabe não existirem meios para controlar. Agora tudo depende da consciência de cada um de nós. O problema é quando não há consciência