Mas, quando se olha para outros, o estado da arte é anémico. Vê-se pelo seu andar cambaleante. Vê-se pelo seu olhar amargo. Vê-se pelo estado da opinião...

Entre uns e outros, há quem prefira admitir que o estado da arte já foi mais animador. Há quem prefira focar-se num estado da arte que destapa uma governação que já irradiou mais esperança.

Que já mobilizou mais vontades. Que já congregou convicções mais fortes. Que já gerou mais confiança. Vê-se, agora, que o entusiasmo está, aos poucos, a esmorecer.

Hoje, confrontamo-nos com um estado da arte envolto em muitas dúvidas e não poucas incertezas. Empurrado pela perdição do tempo, nalguns casos, paira no ar uma nuvem de crescente descrença.

Mas, se há dúvidas e incertezas, não é apenas pela herança do crime. Não, não é. Mas, pode ser pela arte de um espiral de descrença, que está a dar novamente vida ao prolongamento da velha herança sob outra (criminosa) roupagem.

Com antigos e novos actores. O aparato que os envolve parece mergulhado num perigoso remoinho. E se o escalonamento das peças em campo está carregado de entropias, a máquina precisa de ser desmontada, apetrechada com novos rolamentos e bem lubrificada para ser posta à prova.

O estado desta arte inspira, por isso, cuidados médicos intensivos. Cada vez mais distantes de 2018, é bom que os novos ocupantes do Paço saibam que este estado da arte está a colocar os cidadãos cada vez mais próximos de 2022.

É bom que saibam que, da mesma forma que nos últimos anos da anterior governação a guerra passou a ter um efeito "boomerang", olhar para a herança de José Eduardo dos Santos como a maldição de todos os (novos) problemas da actualidade, está a transformar-se também num inexorável não argumento.

Estamos, assim, perante um não argumento daqueles que não têm argumentos políticos, hombridade democrática e honestidade intelectual para reconhecerem a sua incapacidade governativa.

Estamos, assim, perante cidadãos menos preocupados com o que a antiga governação deixou como herança e mais centrados no que a nova governação (não) está agora a realizar como capital de futuro.

Estamos, assim, perante cidadãos menos preocupados com o retrovisor e mais empenhados em olhar para a frente. "É a economia, estúpido"! Este é o ponto.

E olhar para a frente pressupõe, desde logo, reconhecer que, em muitos aspectos, esta governação não está a dar conta do recado. Mas, pior do que isso, é não querer dar conta disso mesmo. Como diz o ditado guineense, mais ou menos como quem "sabe onde caiu, mas estranhamente não sabe onde tropeçou"...

Olhar para a frente - para o Presidente - pressupõe, desde logo, recuperar o capital de simpatia, a bolha de entusiasmo e a nuvem de esperança conquistada no primeiro ano da sua governação.

Para o sucesso da sua empreitada, mais importante, porém, do que a simpatia e o entusiasmo, olhar para a frente pressupõe, para o Presidente, ter capacidade de recuperar a confiança perdida e de estancar o desmoronamento da esperança desencontrada.

Ora, passados dois anos e meio do primeiro mandato do Presidente, os cidadãos não querem voltar a estar ancorados a uma governação impulsionada apenas por uma caderneta de desejos alucinantes.

A um ano e meio das próximas eleições, os cidadãos querem ser governados por pessoas que tenham os sentimentos apegados à realidade do seu dia a dia.

E a realidade já provou que é mais obstinada do que o simples desejo de qualquer liderança política, que em si mesma não abre automaticamente as portas do céu como Moisés abriu as águas do mar vermelho...

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