A redacção é constituída por jovens que percebem do assunto. E a pauta foi feita. O dossier é dedicado à PAZ, com artigos de opinião e relatos de quem acompanhou ou viveu os factos. Essa efeméride refere-se à PAZ, como ausência de guerra. Mas a paz, todos sabemos, é mais do que isso e a informação pode contribuir para acalmar os espíritos. Para além de informar sobre o que aconteceu, a informação pode ajudar a "ver a vida como um fenómeno estável e como um todo." Quer dizer manter os eventos do dia dentro de uma proporção e compreender as conexões entre causa efeito dos diversos acontecimentos. Estes conceitos e outros, também interessantes, preenchem as páginas do livro Detonando a Notícia, Como a Mídia Corrói a Democracia, de James Fallows, jornalista e escritor norte-americano que eu aprecio. Parece que, depois de estarmos na profissão há muitos anos, conseguimos distanciar-nos e analisar com outros olhos o trabalho jornalístico, como ele fez. Muitas vezes depois de lermos um jornal, ou um dos seus artigos, sentimo-nos inquietos, tristes ou raivosos, prontos para desferir golpes a quem se aproximar de nós, ou, ao contrário, tranquilos, em paz.

O dossier desta edição é dedicado à paz. A ideia do director Armindo Laureano é convidar alguém, sempre que o jornal assinalar uma efeméride. Eu fui a primeira e agradeço a distinção. A minha edição deveria ser dedicada à mulher, que, na opinião de um amigo, continua a ser desrespeitada em Angola ao ponto de se dizer que uma esposa pode morrer, não faz mal, arranja-se outra. Sim, a nossa sociedade continua a ser machista e um mês com o pensamento nela não chega. O machismo no mundo continua em alta, com muitas mortes ocorridas e anunciadas. Estamos longe dos tempos em que eu fazia na RNA, o programa PARA MULHER, e que era colaboradora da OMA, escrevendo alguns discursos para a responsável máxima da organização, que tinha uma visão muito abrangente em relação às mulheres que deviam militar nas fileiras da organização. Pairava no ar, um manto que "prendia" as ideias machistas e a sociedade parecia mais igualitária. Os homens pareciam mais companheiros e seria impensável a proliferação de tantos feminicídios. A luta continua, porque as meninas e os meninos continuam a ser educados como meninos e meninas, ali onde os princípios existem, porque na grande maioria tudo isso é herdado e assumido sem se dizer nada. E basta correr a primeira menstruação para nascer mais uma criança e basta uma menina ter a saia curta para disparar no cérebro de um macho a vontade de a possuir num beco qualquer. Nem sequer temos a dimensão dessa tragédia, que nos é relatada quando nos dispomos a falar com quem nos serve e vive os dramas relatados em voz alta no táxi, como se fossem estórias banais.

Oh, esqueci-me! O tema do dossier é a paz e os destaques vão para a COVID-19. Mas há outros assuntos interessantes que não escaparam à argúcia dos jovens jornalistas. Leiam esta edição do Novo Jornal, que vão gostar, e vejam a vida como um todo estável, com eventos cuja proporção é preciso entender. E nesta fase desejo a todos que se cuidem, seguindo as orientações das autoridades ligadas à saúde.

* Maria Luísa Fançony foi a directora do Novo Jornal durante uma semana. Fundadora e directora da rádio Luanda Antena Comercial (LAC), a jornalista assina, numa edição que assinala os 18 anos de Paz em Angola, o editorial que é habitualmente assumido por Armindo Laureano.