As relações diplomáticas Brasil-Angola possuem carácter estratégico e pautam-se em termos de cooperação técnica, concertação política e integração económica. As vantagens do idioma, dos laços culturais e históricos e da vizinhança atlântica, ademais dos desafios comuns entre as sociedades brasileira e angolana, facilitam, sobremaneira, o diálogo bilateral com Angola. A amizade histórica entre os dois países tem um dos seus grandes expoentes no facto de o Brasil ter sido o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, em 1975.

l Nos últimos dois anos, têm sido realizados inúmeros encontros de alto nível entre representantes dos dois países. O então Ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, esteve em Brasília por ocasião da posse do Presidente Jair Bolsonaro e manteve reunião bilateral com o ministro Ernesto Araújo. Em Dezembro de 2019, Ernesto Araújo encerrou o seu primeiro périplo africano em Angola. Na ocasião, entregou ao Presidente João Lourenço carta, na qual este foi convidado a visitar o Brasil em 2020.

O Presidente Jair Bolsonaro, acompanhado do ministro de Estado, fez duas escalas técnicas em Luanda em Janeiro/2020. Nas duas ocasiões, a comitiva presidencial foi recebida pelo então chanceler Manuel Augusto e pela então directora da América do MIREX, embaixadora Esmeralda Bravo Mendonça. Na primeira escala, o Presidente da República recebeu ligação do Presidente João Lourenço, ocasião em que manifestou disposição de realizar visita oficial a Angola.

Em Março de 2020, o embaixador Manuel Augusto voltou ao Brasil, onde cumpriu substantiva agenda de reuniões com Ernesto Araújo e com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina.

Desde meados de 2014, período que coincide com a queda sistemática do preço do petróleo, houve declínio na corrente de comércio bilateral, que permaneceu abaixo de US$ 1 bilhão nos últimos cinco anos. Em 2019, as exportações brasileiras a Angola somaram US$ 441,52 milhões (-3,48% em relação a 2018) - o pior resultado desde 2005 -, e as importações, US$ 140,50 milhões (-33,38%). Houve, é digno de nota, aumento do superávit brasileiro, que atingiu o valor de US$ 301 milhões (+22,08%). No mesmo ano, o valor acumulado pelos embarques do agro-negócio foi de US$ 355 milhões, cerca de 80% das exportações totais do Brasil para Angola. São números modestos se comparados ao nível recorde registado em 2008 (US$ 4 bilhões). As persistentes crises económicas nos dois países, desde meados da corrente década, é um grande empecilho para a retomada das relações comerciais dos dois países nos níveis robustos que seriam de se esperar.

Angola já é importante mercado para as exportações brasileiras de proteína animal (carne bovina congelada, suína e de aves). Entretanto, soma-se a um grupo importante de países de África e do Oriente Médio, como Egipto, África do Sul e Arábia Saudita, que impuseram barreiras às importações de produtos agrícolas como medida de fomento à economia nacional.

A oferta de cooperação técnica na área agrícola e a promoção de investimentos brasileiros têm sido objecto de interesse dos dois Governos. Actualmente, da perspectiva angolana, um dos principais interesses é atrair novos investimentos brasileiros, considerados fundamentais para promover a diversificação da economia e para o sucesso dos programas de privatizações e concessões em curso.

Ernesto Araújo sinalizou aos seus interlocutores angolanos que interessaria, neste momento, reconfigurar a presença económica brasileira em Angola, deixando de lado um modelo dependente de crédito público e ingerência estatal e substituindo-o por novo paradigma em que investimentos produtivos possam ser atraídos segundo uma lógica de mercado, valendo-se do compromisso do Governo do Presidente João Lourenço com a desburocratização e a transparência, bem como do novo marco jurídico angolano para investimento privado e parcerias público-privadas. O Acordo para evitar a Dupla Tributação (ADT) no transporte aéreo, em fase final de revisão para a assinatura, e o Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI), já em vigor, poderão contribuir para estimular novos investimentos.

A 3/12/2019, Angola efectuou o pagamento integral e, de forma antecipada, do seu saldo devedor junto ao Governo brasileiro, no valor de US$ 589,3 milhões (581 milhões relativos ao BNDES e 8,3 milhões ao BB-PROEX). A dívida referia-se a contratos firmados antes de 2015. Angola sempre honrou os seus compromissos com o Brasil e nunca atrasou pagamentos das parcelas devidas, o que representa prova de compromisso com reformas estruturais que lançarão bases mais sólidas para futuro crescimento económico, além de gesto de boa vontade e confiança nas relações bilaterais.

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