O problema não está na produção, diz José Arão Chissonde, "o problema está na transformação e no escoamento dos produtos agrícolas".

"Muitos produtos agrícolas têm de ser vendidos muito baratos porque não temos como mantê-los nem como transformá-los. É o caso do ananás, do tomate, da goiaba, do milho, que podíamos transformar e enlatar, mas não existem empresas para isso". E ilustra: Nós temos uma grande produção de goiaba, por exemplo, mas muitas vezes temos de deitá-la fora. Nem temos como transformá-la nem como escoá-la. Assim, não conseguimos racionalizar os recursos e valorizar a produção e o esforço que é feito nos campos".

José Arão aplaude o discurso de JLO, mas deixa uma análise: "O investimento tem de ser na indústria transformadora, mas antes, é preciso energia. Este município é produtor, só precisamos de empresas de transformação e a indústria transformadora só se move com energia. Não podemos continuar a viver de geradores. Não é financeiramente viável. Sem energia não se alavanca desenvolvimento".

"E depois é preciso escoar o produto. Quanto mais não seja para as outras províncias, porque se cada província conseguir colocar os seus produtos nas outras regiões, não há falta de nada neste país. Agora, importamos até palitos para os dentes".

"É preciso descentralizar, ter coragem para o dizer e ter coragem para o fazer, os problemas dos municípios não podem esperar pela lei das autarquias"

Na opinião do administrador municipal, é também preciso descentralizar a indústria e os serviços, mas também o poder.

"Não podemos concentrar a indústria em Viana, em Luanda. A indústria deve estar no interior, onde está a matéria-prima, para que não haja tanto êxodo rural, e até para que os que migraram para Luanda possam voltar para as suas províncias, mas para isso é preciso que haja emprego nas províncias", declara, acrescentando: "Em Luanda, um espaço custa milhões e milhões de kwanzas, e não os há, aqui, temos espaços desocupados. Só assim conseguiremos diminuir as assimetrias".

E, embora seja a favor da implementação do poder local, com particular destaque para as autarquias, o país não pode aguardar pela sua implantação. É urgente agir, segundo José Arão: " É preciso construir vias secundárias e terciárias, mas para isso, os recursos têm de ser colocados à disposição das administrações municipais". E explica: "Para reparar um buraco, é preciso esperar INEA (Instituto Nacional de Estradas de Angola). Não faz sentido. Isso é desvalorizar o papel das administrações municipais".

José Arão, em jeito de conclusão, atira: "Nós temos recursos humanos competentes para fazer terraplanagem. Dêem-nos os kits ou os recursos financeiros para os comprarmos, dêem-nos as máquinas, porque esse é um trabalho diário. É preciso transferir recursos para as administrações municipais. E temos de ter coragem para falar sobre estas coisas".