Estas prioridades para as populações estão excluídas do programa PIIM neste município que é o território mais pobre de Luanda, soube o Novo Jornal junto da administração municipal da Quiçama.
Os habitantes enfrentam muitas dificuldades socioeconómicas, sendo a falta de água potável, energia eléctrica e vias de acesso como as mais preocupantes, a população, que diz sentir-se excluída da província Luanda, não percebe as razões que levaram as autoridades a não inscreverem no PIIM projectos que visam dar desenvolvimento ao município, permitindo levar produtos para a cidade e garantir a luz e a água.
Entretanto, só no que toca ao fornecimento de água potável que é feito por camiões cisterna, a administração municipal gasta perto de cinco milhões de kwanzas mês, disse ao Novo Jornal fonte da administração.
Dos 21 projectos ligados ao PIIM, na Quiçama, estão previstos a construção de novas escolas, centros médicos para as comunas de Caxarandanda, Luandos e Cadange, bem como a construção de dois hospitais, sendo um em Cabo Ledo e outro na Muxima, mas não há nenhum projectos para construção de Estação e Tratamento de Água, sistema de fornecimento de energia da rede pública e de novas vias de acesso.
No entanto, os munícipes pensavam que o PIIM haveria de garantir estradas, água e energia da rede pública às vilas sede das comunas da Quiçama, visando minorar as dificuldades que as famílias enfrentam diariamente.
"Ficamos surpresos e nem temos palavras para descrever esse grande erro que os nossos dirigentes cometeram. Até ao momento nenhum popular compreende isso. É uma falta de respeito o que o Executivo esta a fazer aos munícipes aqui na Quiçama", disse Fonseca Adão, um munícipe ouvido pelo Novo Jornal.
José João é empreendedor de Cabo Ledo há 10 anos e contou que, fruto da falta de energia e água da rede pública, muitos empresários não investem na região.
O empresário que tinha esperança no PIIM para ver melhorado estes problemas na região, disse que a não inclusão destes projectos faz com que o município da Quiçama continue sem progresso.
"Como é que os empresários vão investir num município que nem água, nem energia e estradas tem? Quiçama tem, para além do seu Parque Nacional, a comuna de Cabo Ledo como melhor ponto turístico de Luanda e o Executivo devia pensar bem ao fazer os projectos para o PIIM", disse o empresário.
"O que falta para Quiçama ter luz da rede pública? Não entendemos. As vias de acesso que para as comunas não existem, por isso é que os empresários não querem vir investir na Quiçama e vamos continuar a ter um nível considerado de miserável", afirmou o morador Jorge Francisco Tomé, residente no bairro do Sangano.
Em Julho de 2019 o vice-presidente da República, Bornito de Sousa, visitou o município e as suas comunas de helicóptero porque se fizesse de carro jamais conseguiria, por ser impossível, lembram os moradores.
"Não se compreende como o PIIM não traz água nem energia eléctrica e estradas na Quiçama, se o próprio vice-presidente da República considerou preocupante a situação global do município?", questionou.
Ao Novo Jornal, o administrador municipal adjunto da Quiçama para área financeira e orçamental, Amílcar Oliveira, disse que no âmbito do PIIM não se considerou as questões da água nem da energia eléctrica, reconhecendo existirem falhas.
Quanto ao fornecimento de água, Amílcar Oliveira disse que a Quiçama tem dois grandes rios (o Longa e o Kwanza) e não se justifica ter ainda as populações serem servidas por cisternas.
"No âmbito do programa de combate à pobreza, a administração está a esforçar-se em construir pequenos sistemas de captação, tratamento e distribuição de água para a população", disse, acrescentando que "já existe em alguns pontos mas ainda não é suficiente".
O administrador municipal adjunto para área financeira e orçamental desconhece o porquê de não terem sido inseridas estas áreas nos projectos do PIIM na Quiçama.
"Se no âmbito do PIIM nos derem abertura para rectificar iremos fazê-lo. Porque os projectos que o município tinha em carteira são os que passaram para o PIIM e foram contemplados, e nele não estão projectos de água e energia eléctrica", disse.
A Quiçama vive dependente de placas solares e de grupos geradores que fornecem energia eléctrica às pequenas comunidades.
Quanto aa fornecimento de água, o responsável disse que a administração municipal da Quiçama gasta mensalmente, com camiões cisternas que fornecem água tratada as populações, perto de cinco milhões de kwanzas.
"As vias de acesso são o nosso grande problema. O PIIM nos deu um kit de terraplanagem e estamos a trabalhar para conseguir operacionalizar esse kit nas vias existentes. O que precisamos de facto é melhorar as vias e facilitar o escoamento dos produtos do campo", explicou.
O município da Quiçama tem cinco comunas, possui uma população estimada em mais 50 mil habitantes que se dedica à agricultura de subsistência, caça e pesca artesanal e esta localizado a cerca de 150 quilómetros Luanda.
O antigo município da província do Bengo foi integrado na província de Luanda em 2018, no âmbito da nova divisão política e administrativa e existe há 83 anos desde que ascendeu à categoria de município.
No entanto, o relatório de Pobreza Multidimensionalmente nos Municípios, divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em 2019, coloca o município da Quiçama como sendo o mais pobre de Luanda, com o índice de pobreza a rondar os 75%, o que significa que pelo menos, sete em cada dez pessoas nessas regiões são multidimensionalmente pobres.
Recorde-se que a Quiçama é um dos municípios com áreas protegidas para onde o Executivo admite autorizar a exploração de petróleo.