Esta concentração estava anunciada desde que a 11 de Novembro teve lugar uma manifestação fortemente reprimida pela Polícia Nacional, tendo ocorrida uma morte, a do estudante de engenharia informática Inocêncio de Matos, mas desta feita sem ter por detrás os movimentos Revolucionário e pela Cidadania que organizaram a de 11 de Novembro e a de 24 de Outubro, igualmente dispersada com violência e centenas de detenções.

Como o Novo Jornal constatou, os manifestantes, maioritariamente jovens, gritavam palavras de ordem a exigir um combate efectivo e o julgamento de quem roubou o dinheiro do povo".

Em declarações ao Novo Jornal, Fernando Macedo, um dos organizadores, explicou que os objectivos desta concentração são, de uma forma geral, os mesmos que estiveram na génese das manifestações de 24 de Outubro e de 11 de Novembro, acrescentando exigências políticas mais abrangentes, como a revisão da Constituição ou o combate à corrupção de forma global e não "selectiva".

Exigem especialmente que a CRA passe a definir que o PR é eleito em nome individual e não como cabeça de lista de um partido político, a demissão do actual presidente da CNE e ainda do chefe de gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Costa.

Fernando Macedo adiantou ainda que os manifestantes exigem a realização de inquéritos parlamentares aos gastos por explicar da Sonangol e da Endiama, ou ainda um mais eficaz combate ao desemprego e à pobreza, sem esquecer a realização das eleições locais em calendário distinto do das eleições gerais.

A acompanhar a presença dos cerca de uma centena de manifestantes, esteve uma presença policial discreta, pelo menos até cerca das 13:30, e sem intervir no desenrolar dos acontecimentos.

24/10-11/11

Esta foi a terceira vez que a população é convidada a sair à rua em menos de um mês. Na primeira manifestação, no dia 24 de Outubro, milhares de jovens saíram à rua e concentraram-se nas imediações do Cemitério da Santana com o intuito de se dirigirem para o Largo 1º de Maio mas foram impedidos pela polícia, que deslocou para a zona centenas de efectivos, incluindo da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), das brigadas caninas e da cavalaria, para além dos agentes de Ordem Pública.

Apesar de ter sido uma iniciativa de organismos da sociedade civil, a manifestação contou com o apoio da UNITA.

No dia 24 foram detidas 103 pessoas, entre elas jornalistas, que depois de algumas horas encarcerados, foram libertados. As restantes, incluindo duas menores, continuaram detidas e foram julgadas sumariamente, tendo sido libertadas já no dia 1 de Novembro, com 26 réus absolvidos e 71 condenados, pelo crime de desobediência, a uma pena de um mês de prisão convertida em multa.

No dia 11 de Novembro, a juventude voltou a pisar as ruas em protesto contra o elevado custo de vida, o desemprego e pela realização das eleições autárquicas e a Polícia Nacional voltou, mais uma vez, a reprimir, com recurso à violência, a manifestação.

Para além de dezenas de detenções, alguns activistas, como Manuel Nito Alves e Laurinda Gouveia, foram feridos durante confrontos entre manifestantes e polícias tendo sido levados de imediato para uma unidade hospitalar de Luanda. Mas a memória que fica desse dia é a da morte de Inocêncio de Matos, um jovem estudante de engenharia que participava pela primeira vez numa manifestação.