Da exoneração de mais de duas centenas de governantes, administradores de empresas públicas e altas chefias militares aos sinais da tão desejada separação de poderes entre Política e Justiça e aos esforços de reconciliação nacional, nada ficou invisível aos olhos de quem está atento à governação de João Lourenço, dispostos a esperar o melhor, mas sem precipitações, pois ainda é "muito cedo" para se fazer uma avaliação completa da presidência de JLo.

Dos partidos da oposição, a UNITA, através do seu porta-voz, Alcides Sakala, sublinhou que há alguns sinais de que Lourenço pretende corresponder às expectativas e anseios dos angolanos, no sentido da mudança efectiva, mas os grandes desafios estão ainda por vir.

"Nomeadamente as autarquias, o repatriamento de capitais, a melhoria das condições de vida das populações e o processo de reconciliação nacional", frisou, destacando, no entanto, haver sinais no que diz respeito à separação de poderes no sector de Justiça.

Já a CASA-CE, através de um dos seus vice-presidentes, Manuel Fernandes, considera que a atitude do Chefe de Estado está mais próxima das aspirações do povo.

"Começou muito bem e esperamos que no segundo ano comece a atacar os verdadeiros problemas que os angolanos enfrentam, como a criação de mais postos de trabalho para diminuir o desemprego, a criação de um bom ambiente de negócios (...) e o combate à pobreza", enumerou.

Da parte da FNLA, o membro Esteves Maboto, afirma estar satisfeito com o primeiro ano de governação do Presidente da República, mas acrescenta que o segundo ano será determinante para uma melhor avaliação das reais intenções de João Lourenço.

"O primeiro já anima os angolanos, o segundo será decisivo para o seu desempenho", resumiu.

Também o PRS, através do seu presidente, Benedito Daniel, destacou o desempenho de JLO, frisando que no sector da Justiça se têm verificado melhorias significativas.

"Se o que está acontecer no sector da Justiça vier a ser extensivo a outras áreas, teremos um País próspero nos próximos tempos", referiu, salientando que o futuro é desafiador para o Presidente da República.

Já da parte do partido que governa o País, o deputado do MPLA, Tomás da Silva, considera "positivo" o primeiro ano de governação do Presidente João Lourenço, encorajando-o a continuar a tomar medidas essenciais, sobretudo no combate à corrupção e ao nepotismo.

"Prometeu muita coisa no seu discurso da tomada de posse e agora constatam-se as acções. Tenho fé que, não obstante os grandes desafios que tem pela frente, JLO, com a ajuda do nosso partido e de vários quadros, vai resolver os graves problemas que a sociedade enfrenta", disse.

O jornalista Miguel Gomes é de opinião que o Presidente da República tem sido uma surpresa positiva.

"Nunca fui daqueles que olhavam para João Lourenço como um mero seguidor das ideias e das ordens de JES, sobretudo porque isto acarretava um enorme risco político para o actual Presidente", frisou.

Apesar de ser "uma figura complexa", acrescenta, Miguel Gomes, "JES deixou o País de rastos a vários níveis: económico, social, corrupção galopante, clientelismo arrasador, liberdades coartadas e políticas culturais de baixo nível".

"Quem se dedicasse a repetir a mesma actuação julgo que teria sérios problemas de legitimidade e governabilidade. Mas também nunca imaginei que, em apenas um ano, pudéssemos ter sinais tão fortes de uma mudança na forma e no estilo de governação".

Salientando que " é uma mudança fortemente desejada pela maioria dos cidadãos", Miguel Gomes conclui: "Aos fortes sinais de transformação refiro-me aos casos judiciais que avançaram mesmo contra altas figuras da nomenclatura do Estado e do MPLA, à aprovação de leis sobre a concorrência, o investimento privado, mais abertura da comunicação social pública, relançamento da posição de Angola na região e no mundo, novas regras para a requisição de vistos de entrada no país, reconciliação nacional falta agora perceber melhor como estas mudanças vão se reflectir concretamente na vida e no bolso dos cidadãos angolanos sobretudo dos mais pobres, que ainda são muitos e desamparados, na maior parte dos casos".

Para o activista dos direitos humanos, Amaral Estes Sabino, no seu primeiro ano de governação, o Presidente João Lourenço teve "algumas atitudes corajosas que têm agora que ser seguidas de actos".

"Começou muito bem e é um homem corajoso. Esperamos que continue assim", frisou, acrescentando que, "num ano, o Presidente da República arrumou a casa".

Exonerações marcaram a governação de JLO

O professor universitário António de Azevedo Vamy começou a acreditar quando JLO "mexeu" com os dois filhos do ex-presidente, José Eduardo dos Santos, que eram responsáveis máximos do Fundo Soberano e Sonangol.

"Comecei a perceber que as coisas vão mudar no futuro", referiu.

Um sinal notado pelo professor universitário de que as coisas vão mudar foi quando o JLO exonerou também altas figuras das Forças Armadas e da Polícia Nacional, que tinham sido nomeados pelo seu antecessor para um mandato de cinco anos.

"Eles estavam em pleno mandato, mas JLO desfez o que JES tinha feito", frisou.

Para o politólogo Cândido Messo, as mexidas feitas pelo JLO começaram a alimentar a confiança dos angolanos que pensavam que o novo Presidente iria "dançar a música" de JES.

"Muitos governantes ficaram surpreendidos, não sabendo que o novo Presidente tinha competência para mudar o xadrez no seio das FAA e da Polícia Nacional", disse o politólogo, que tem muitas expectativas sobre o segundo ano de governação de JLO.

Para o economista António Saraiva Jamba, o novo ambiente de negócios que está a ser criado em Angola faz com que JLO receba apoio externo para investimentos no País.

"As barreiras e os monopólios permitidos pelo executivo cessante acabaram por prejudicar a imagem de Angola fora do País. Acredito que com a abertura do actual Governo novos dias virão", diz.

O que o povo não esperava

A prisão preventiva de Filomeno dos Santos e do ex-ministro dos Transportes e outros funcionários surpreendeu a sociedade, habituada a ver casos de impunidade.

"Ninguém contava com o que está acontecer", comentam as pessoas em vários bairros da capital.

Para o jurista António Erasmo de Jesus, a separação de poderes coloca a Justiça a funcionar sem embaraços.

"Isto é o que faltava. Agora cabe os tribunais fazerem o seu trabalho e quem estiver efectivamente envolvido que seja responsabilizado, quem não estiver, que volte à liberdade", argumentou.