Angola deverá obter mais um conjunto de apoios chineses para amaciar a crise económica e financeira que atravessa desde 2014 devido à quebra abrupta do preço do petróleo, a começar por mais uma linha de crédito que fontes do Governo já admitiram poder ultrapassar os 10 mil milhões de dólares norte-americanos.

Mas o reforço da parceria estratégica também não ocupa menor espaço entre as prioridades dos dois países, até porque Angola surge entre os Estados africanos como um dos mais importantes na batalha de gigantes globais - EUA e China - pela manutenção, por parte de Pequim, e reconquista de influência, por parte de Washington, no estratégico continente africano, cada vez mais essencial para as ricas economias pobres em matérias-primas fundamentais, como é, numa boa medida, o caso destas que são 1ª e a 2ª maiores economias mundiais.

Alias, no mapa desta deslocação de João Lourenço à China estão marcados com "x" a traço grosso a assinatura de quatro acordos - instrumentos jurídicos no jargão diplomático -, com destaque para aquele em que Luanda e Pequim põem fim à dupla tributação no que concerne às importações e exportações.

Mas estão ainda em cima da mesa as assinaturas de um documento que define um novo episódio no relacionamento bilateral, onde a China deverá assumir um papel importante na formação de quadros angolanos - denominado Memorando de Entendimento sobre Recursos Humanos -, um outro sobre Cooperação Económica e Técnica e um terceiro sobre a abertura de mais uma linha de crédito do Banco de Desenvolvimento da China para o Ministério das Finanças angolano.

No que toca à cooperação económica e técnica, é de sublinhar que Angola já tem quase concluídas as negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre um empréstimo avultado - 4, 5 mil milhões USD em três anos - e o apoio técnico para a implementação dos programas de consolidação macroeconómica e de relançamento da economia nacional, denominados PEM e PDN 2018/22.

Com este acordo com a China pode-se pressupor que Luanda procura equilibrar os pratos da balança com os seus principais parceiros externos e, ao mesmo tempo, delimitar o potencial de influência do FMI sobre a economia nacional, através das inevitáveis condicionantes que os programas de consolidação com intervenção do FMI, em tempo de crise, acarretam.

Até porque a China tem, no mínimo, 23 mil milhões de dólares investidos em Angola, sob a forma de empréstimos, quase todos linkados para pagamento às remessas de petróleo para o gigante asiático.

Para lá disto tudo, Angola pretende obter mais investimento directo de empresas chinesas com o objectivo de aumentar a produção nacional de bens de consumo, que permita a transferência de tecnologia e a formação de quadros nacionais.

Mas a questão da renegociação da dívida emerge como ponto central deste xadrez, até porque Angola está afogada economicamente nas obrigações para com a dívida externa.

Para além dos acordos em cima da mesa para serem assinados, João Lourenço terá ainda encontros com o seu homólogo Xi Jinping, e com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e o presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional da República Popular da China, Li Zhanshu.

O Chefe de Estado angolano deslocar-se-á ainda a alguns polos de desenvolvimento tecnológico, como o da Huawei, na cidade de Tiajin.

Para esta visita à China, Lourenço tem consifo, para além da sua mulher, Ana Dias Lourenço, uma comitiva de largo espectro, onde pontuam, para além do ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, e das Finanças, Archer Mangueira, dois ministros de Estado, Manuel Nunes Júnior, do Desenvolvimento Económico e Social, e Frederico dos Santos Cardoso, chefe da Casa Civil do Presidente da República.

Os ministros da Construção e Obras Públicas, Transportes e Energia e Águas também integram esta larga comitiva a caminho da China.