O responsável pela diplomacia angolana, que falou aos jornalistas no Sábado, no aeroporto de Luanda, justificou a condição de visita de "particular importância" com o facto de ser "a primeira vez" que John Sullivan está em África - começou este seu périplo pela África do Sul, onde esteve 48 horas -, e porque em cima da mesa de trabalho vai estar o "diálogo estratégico" que os dois países entabularam em 2010.

"O nosso diálogo estratégico é uma plataforma na qual os dois países discutem os assuntos mais relevantes, como os da área política e diplomática, dos direitos humanos ou do comércio", disse Manuel Augusto, acrescentando que "é uma visita aguardada com com ansiedade", mostrando-se confiante de que no fim da visita - que durará 24 horas - as relações entre Luanda e Washington vão estar mais fortes.

Essa percepção, segundo Manuel Augusto, resulta da qualidade do diálogo que os dois países têm procurado e pela "nova dinâmica" imposta pelo Governo de João Lourenço que tem, sublinhou, "merecido o reconhecimento e apoio da Administração norte-americana".

De acordo com o programa, J. Sullivan vai ser recebido pelo Presidente João Lourenço, momento onde, normalmente, são feitas as considerações de natureza política e diplomática que consolidam as conversas prévias com o MIREX, e que a embaixada dos EUA em Luanda já frisou que vai servir para reafirmar a condição de relação "duradoura e abrangente" entre os dois países em particular e com o continente africano em geral.

Mas, nas 24 horas que vai permanecer em Luanda, John J. Sullivan vai focar-se com Manuel Augusto no denominado processo de "Diálogo Estratégico", criado há vários anos para consolidar as relações bilaterais, sendo ainda esperada a assinatura de um memorando de entendimento sobre segurança e ordem pública, bem como um encontro com a comunidade empresarial representada na Câmara de Comércio Estados Unidos/Angola (USAAC) e na Câmara Americana em Angola (AmCham-Angola).

Um dos pontos mais interessantes de seguir nesta deslocação será a questão da nova estratégia forjada pela Administração de Donald Trump para África onde, como é já um facto reconhecido e admitido publicamente, Washington trava uma "guerra fria" com a China mas sem os conflitos bélicos de outrora, sendo essencialmente formatada para garantir mais influência norte-americana no continente através de relações comerciais e de cooperação polivalente.

Um dos pontos que devera estar presente nas conversas com Manuel Augusto e com João Lourenço é o problema da crise político-diplomática na Venezuela onde, como se sabe, os EUA estão na linha da frente com combate pelo afastamento de Nicolás Maduro, tendo o Presidente Trump admitido mesmo uma intervenção militar, enquanto Angola, na linha da posição da União Africana e da SADC, pugnam por uma solução interna, sem ingerência e, não de somenos importância, reconhecem a legitimidade democrática ao regime venezuelano.

Mas J. Sullivan é igualmente o "homem" de Trump no importante instrumento da relação dos EUA com África, o AGOA - criada em 2010 por Bill Clinton - , uma espécie de lei norte-americana para fortalecer o crescimento e o desenvolvimento em África através de projectos financiados por Washington, que tem, como pano de fundo, de forma clara, o plano de longo termo para enfrentar a crescente influência das alargadas linhas de crédito de Pequim vertidas para o continente.

E, num dos fóruns recentes que envolveu os EUA e dirigentes das organizações regionais e pan-africanas, como a União Africana, no âmbito do AGOA, Sullivan lembrou, com um forte sublinhado, a ideia de que o "futuro passará seguramente por África" e que os EUA estão atentos a essa realidade.

Apesar de permanentes considerações sobre a urgência de consolidar a democracia e os Direitos Humanos no continente, Sullivan lembrou que "África é o mercado do futuro" e que entre hoje e 2015, "metade do crescimento populacional no mundo vai ocorrer no continente, o que é o mesmo que "dizer que 1,2 mil milhões de novos consumidores vão chegar ao mercado africano".

"Esta grande oportunidade vai chegar com desafios, incluindo a necessidade de garantir empregos para esta crescente população jovem", alertou, sublinhando que, para isso, "a expansão do comércio e do investimento são cruciais para fazer face a este enorme desafio" que África vai enfrentar nos próximos anos.