Para Alcides Sakala, o mais importante a reter no que diz respeito à iniciativa, sem ter em conta o conteúdo, é que estas "devem continuar para confirmar que se está a assistir a uma alteração de paradigma" imposto até aqui com "mão-de-ferro" pelo anterior Presidente" e não a uma "mera estratégia propagandística com os dias contados".

Para o porta-voz do maior partido da oposição, a conferência de imprensa/entrevista colectiva que hoje teve lugar nos jardins do Palácio Presidencial, com João Lourenço, uma iniciativa inédita no país, poderia, no entanto, ter sido aproveitada para "avançar em alguns temas importantes para a sociedade angolana" e que essa oportunidade "foi, infelizmente, perdida".

Sakala referia-se particularmente à questão da "despartidarização do Estado", onde o Presidente da República "devia ter explicitado melhor a forma como pretende acabar com este problema antigo no país", lembrando como exemplo a questão das províncias "onde o Governador é quase de forma generalizada o 1º secretário do partido no poder", o MPLA.

Mas Alcides Sakala foi ainda ao assunto do 27 de Maio de 1977, onde milhares de cidadãos terão morrido no âmbito de uma alegada sublevação interna no regime de partido único do MPLA, como forma de "ultrapassar esta questão fracturante na sociedade angolana" e como "forma de avançar e resolver definitivamente este assunto".

O porta-voz da UNITA, sublinhando que o partido só aborda esta questão "em nome dos interesses do país", colocou também como assunto importante a "bicefalia que existe actualmente" em Angola, onde o maior partido parlamentar tem como presidente o ex-Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, e o país tem como Presidente João Lourenço.

O dirigente do "Galo Negro" lembrou que o Presidente da República, ao "afirmar que aguarda que o ex-Presidente deixe este ano a liderança do MPLA, está a demonstrar que existe uma forte crispação entre os dois" e que "há problemas por resolver que podem ser importantes para que o país possa avançar na direcção mais indicada".

A UNITA considera ainda a questão das relações bilaterais com Portugal um ponto importante, considerando que "é um erro estratégico" o finca pé do Presidente num assunto que diz respeito a uma pessoa e que "não pode colocar em causa as relações entre os dois povos" eu necessitam de "boas relações entre governos para poderem crescer e melhorar".

"Esta questão tem de ser ultrapassada porque as relações entre os povos não podem ser prejudicadas por causa de uma pessoa", bem como a cooperação bilateral "não pode estar dependente do desfecho de um processo judicial".

Recorde-se que João Lourenço reafirmou hoje que as relações entre Lisboa e Luanda vão "depender" da forma como for concluído o processo judicial que o ex-Vice-Presidente Manuel Vicente enfrenta em Portugal, onde está acusado de corromper um procurador-adjunto do Ministério Público, entre outros crimes.