Margarida Cassange, de 48 anos de idade, é residente no município da Catumbela, na província de Benguela mas, como se dedica à venda de produtos do campo, visita, com frequência, a capital, Luanda, onde tem grande parte dos seus clientes.

No dia 24 de Março, como é seu costume, deslocou-se a Luanda, levando consigo vários produtos do campo para comercialização no conhecido mercado informal do Catinton. Para trás deixava o marido e os seus oito filhos, um dos quais menor de dois anos.

Margarida pensava "despachar" o negócio nas primeiras horas do dia 27, para, no período da tarde, tomar o autocarro de regresso à terra natal. Como não tem o hábito de ouvir as notícias, não sabia que naquele mesmo dia estava decretado o início do estado de emergência em todo o país devido à pandemia do novo coronavírus.

Foi assim que Margarida, à semelhança de outros milhares de cidadãos, se viu impedida de regressar à Catumbela. Sem opções, teve de se abrigar em casa de uma amiga durante os 15 dias em que vigorou o estado de emergência. Além de não poder vender parte do produto que comercializava, viu-se refém de uma doença que desconhecia e, obrigada a ficar semanas sem conviver com a família.

Para alegria de Margarida e de outros milhares de cidadãos, o Governo abriu excepções à circulação interprovincial, tendo definido Sábado e Domingo para que os cidadãos que ficaram retidos fora das suas províncias surpreendidos pelo estado de emergência, possam regressar às suas terras de origem.

Eram 05:00 de Sábado e Margarida já se encontrava no terminal interprovincial da transportadora Macon, no Rocha Pinto, para a tão aguardada viagem de regresso a casa. Contudo, Margarida foi outra vez surpreendida.

Uma grande multidão cercava todas as portas de acesso ao terminal, desrespeitando as medidas de prevenção contra a Covid-19 definidas pelas autoridades sanitárias. Homens, mulheres e crianças abarrotavam aquele lugar para a compra de um bilhete de passagem, cujo preço variava entre os 5 mil e os 20 mil kwanzas.

A confusão instalou-se, prejudicando até a normal circulação de viaturas na Avenida 21 de Janeiro no sentido Aeroporto-Benfica, como constatou o Novo Jornal. O mesmo cenário verificou-se na zona do Benfica e em Viana, na famosa paragem do "Tio Show", onde também alguns cidadãos denunciaram especulação de preços. Por exemplo, o bilhete de passagem para a província do Kwanza Sul, que anteriormente custava entre 3 e 5 mil kwanzas, está agora a ser comercializado a 9 mil kwanzas.

Foi necessária a intervenção de várias estruturas governativas, nomeadamente, do vice-governador de Luanda para a área social e política, de elementos do Ministério dos Transportes e da Delegação Provincial da Saúde, que, com apoio de efectivos da Polícia Nacional, tentaram acalmar os nervos dos passageiros, mas sem muito sucesso. Nem todos puderam viajar. Nem mesmo Margarida teve sorte. Agora restou-lhe aguardar por Domingo para de novo tentar a sua sorte.

Macon receia quedas nas receitas devido à limitação de passageiros

Armando Macedo, coordenador comercial da Macon, disse ao Novo Jornal que o número de pessoas que afluíram ao terminal da transportadora na manhã de Sábado chegou aos seis mil, muito além da capacidade dos 80 autocarros disponibilizados.

Com a determinação de que os transportes colectivos devem apenas transportar um terço de passageiros em relação à sua capacidade, aquele responsável prevê que a empresa transportará menos de 2.000 passageiros em dois dias. E fala em perdas avultadas nas receitas da empresa.

"Neste momento é difícil organizar as viagens. São pessoas que foram vindo para Luanda durante um longo período para ter somente dois dias para lhes permitir o regresso às suas localidades. É impossível. Por outro lado, a limitação de um terço de passageiros vai também ter impacto negativo nas receitas da empresa", explicou.

A segunda fase do estado de emergência vai vigorar das 00:00 do dia 11 de Abril até à meia-noite do dia 25 de Abril, com muitos cidadão, porque não puderam regressar às zonas de origem, a serem obrigados a prolongar a sua estadia em Luanda.