Em África, Angola é dos poucos ou talvez o único país que tenha adaptado infra-estruturas de hotéis e hospitais para implementar a quarentena institucional como forma de conter a propagação do vírus. Mesmo antes da descoberta do primeiro caso no país, passageiros vindos de países com a doença eram submetidos a um confinamento obrigatório.
Nesta edição, o Novo Jornal conta experiências de quem viveu o confinamento por causa da ameaça da Covid-19.
"Não tive medo de testar positivo. Lamentava pela minha família e alguns amigos que tinham estado em contacto comigo", conta Evaristo das Mangas. O jovem, residente na Huíla, esteve confinado durante quase uma semana numa das salas do Hospital Central do Lubango (HCL).
Chegou a 11 de Março vindo de Portugal, onde esteve por questões académicas. Consciente do problema que o mundo enfrenta, submeteu-se a uma quarentena profiláctica. Mas depois teve irritação na garganta. Temendo que fosse um dos sintomas, dirigiu-se ao HCL para testagem.
O que era uma simples ida ao hospital causou pânico entre os profissionais de saúde. Evaristo afirma que se notava que os médicos estavam "borrados de medo".
"Cheguei ao hospital calmo. Pedi para falar com o responsável do banco de urgência. Expliquei a situação e vi que o hospital entrou em pânico. Chamaram até a polícia", lembra.
Após a triagem para a recolha de amostras salivares, muco nasal e de sangue que foram enviados para Luanda, foi isolado num dos quartos do hospital. Situação que colocou a família e amigos angustiados. Pela televisão e redes sociais, apercebeu-se de que era dado como certo que estava infectado pela Covid-19.
Depois de três dias em isolamento, conta que a maior preocupação era poupar a mãe para que não se apercebesse do que se estava a passar.
"Ela é hipertensa. Não lida muito bem com essas informações, ainda mais pelo que se dizia na televisão".
Apesar de calmo, revoltava-se com as notícias que davam conta que estava contaminado. "Estava bem psicologicamente, mas saber o que diziam colocava-me adoentado", relata.
Evaristo lembra que, durante os dias que esteve isolado, só precisou de solidariedade. "Muitas pessoas têm morrido mais por aquilo que dizem delas do que pela doença que as enferma", desabafa.
"Não foi a primeira vez que estive em estado crítico de saúde. A sensação varia de indivíduo para indivíduo. Quanto a mim, sabia que podia ser tratado atacando os sintomas, já que a doença não tem uma cura conhecida até ao momento.
Sendo o único caso suspeito na província, espantava-se com a informação de que havia muitos mais.
Enquanto os dias passavam, continuava com as dores na garganta e sem tratamento. Por isso, questionou a equipa médica do hospital as razões de ainda não ser tratado da irritação. "Foi aí que decidiram dar-me a água quente".
Seis dias depois, foi visitado pela equipa da Comissão Provincial de Resposta à Covid-19, e foi-lhe informado que os testes tinham sido negativos e que estava dispensado. No mesmo dia, recebeu um pedido de desculpas dos enfermeiros pelo medo que tiveram durante o atendimento.
"Gostaria de apelar à participação de todos no combate à Covid-19. É uma luta que venceremos se cada um ficar em casa observando as medidas e sair apenas para coisas que realmente sejam necessárias".
Indignada com o abandono
Alexandrina Airosa denuncia ter sido abandonada pelas autoridades sanitárias de Luanda. Casada, de 57 anos, com tre^s filhos, ela e o esposo fazem parte do grupo de risco. Te^m diabetes e sa~o hipertensos.
"Desde que cheguei em Marc,o, disseram-me que deveria ser contactada para teste, mas na~o aconteceu", fala indignada.
Alexandrina esteve durante duas semanas na Ita"lia e, antes de regressar a Angola, no dia 17, teve passagem por Portugal.
Neste fim-de-semana prolongado pelo feriado do 01 de Maio, Dia do Trabalhador, o semanário Novo Jornal já está em sua casa e com acesso gratuito. Leia esta e outras notícias em http://leitor.novavaga.co.ao/