A directora da Parceria Global para Erradicar a Tuberculose, Lucica Ditiu, citada pelas agências, disse que os dados revelados pelo estudo, realizado em parceria com o Imperial College London, a organização global para a saúde pública Avenir Health e a Universidade John Hopkins, mostram o quão "estúpido é o mundo" onde se estão a condenar à morte milhões de pessoas porque os meios absolutamente necessários para combater a tuberculose estão a ser desviados para a luta contra a Covid-19.

A generalidade dos países estão comprometidos com estratégias para acabar com a tuberculose até 2030, onde se inclui Angola, país que está no topo da lista dos países com as mais altas taxas de incidência de tuberculose no mundo, tendo, dados de 2017, matado mais de 1300 pessoas, sendo que todos os anos surgem dezenas de milhares de novas infecções, muitas destas relacionadas com o HIV/Sida.

Tal como está a suceder com o combate à poliomielite (polio), cujas campanhas de vacinação estão suspensas em muitos países devido ao desvio de meios para ao combate à pandemia da Covid-19, também os programas de irradicação da tuberculose estão a ser afectados de forma significativa por esta mesma razão.

Segundo este estudo, pelo menos 6,3 milhões de pessoas vão contrair tuberculose até 2025 e 1,4 milhões vão morrer porque não vão ser diagnosticadas a tempo ou nem sequer vão receber tratamento devido aos confinamentos e aos meios desviados para combater o novo coronavírus, fazendo com que ocorra um retrocesso de oito anos neste esforço global.

A responsável pela Parceria Global, organização criada em 2000 por ONG"s, países e agências da ONU, citada pela imprensa internacional, mostrando forte indignação, vem sublinhar o irracional que existe no facto de a Covid-19 ser uma doença com três meses e ter já mais de 100 pesquisas para descobrir uma vacina, enquanto a tuberculose é uma doença com milhares de anos e nos últimos 100 anos foi encontrada apenas uma vacina e estão só duas em estudo, quando até 2027 vai ser necessário vacinar pelo menos mil milhões de pessoas em todo o planeta.

"É por causa destas coisas que eu entendo que este mundo esta completamente fod...", disse Lucica Ditiu, mostrando de forma clara a sua indignação, citada pelo The Guardian, admitindo ainda ser muito difícil de compreender como é que se desbarata assim um esforço de anos para erradicar uma doença que todos os anos mata centenas de milhares de pessoas e que podia já estar muito mais controlada.

"Tantos esforços concentrados na procura de uma vacina para a Covid-19 e doenças como a Sida ou a malária, e a tuberculose, a mais antiga e das mais letais, continuam a ser os patinhos feios da investigação", lamentou a directora da Parceria Global para a Erradicação da Tuberculose, doença que mata 1,5 milhões de pessoas todos os anos, a maior parte em África e nos países mais pobres da Ásia.

Em 2015, numa cimeira mundial, ficou decidido que esta doença será erradicada até 2030, com fundos doados pelos países subscritores, mas esse plano está agora comprometido devido à pandemia da Covid-19, que é uma doença que não respeita barreiras sociais e tanto infecta ricos como pobres, quando a tuberculose está essencialmente limitada às classes mais empobrecidas nos países mais pobres.

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afecta essencialmente os pulmões e é causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch, sendo normalmente associada à pobreza, à alimentação deficiente, surgindo amiúde relacionada com o HIV/Sida.

Nos últimos anos esta doença tem ganhado tereno devido à sua fórmula multirresistente, com forte resistência aos antibióticos comummente utilizados.

Manifesta-se através de diversos sintomas, sendo o mais comum e principal a tosse repetida e seca, mas também por febre, suores nocturnos, emagrecimento e cansaço e fadiga permanentes.