A notícia é avançada pelo jornal espanhol Voz Populi, que adianta que o roubo aconteceu em Dezembro e que "foi trabalho de profissionais que sabiam o que procuravam".

"Eles foram directamente aos escritórios onde poderiam encontrar documentação relacionada com Angola", escreve o jornal, citando "fontes próximas à empresa, que indicaram que os ladrões entraram no prédio através de uma janela e conseguiram cancelar os alarmes antes".

"Nos feriados públicos não havia segurança privada e os ladrões aproveitaram o dia de Natal para fazê-lo", dizem as mesmas fontes citadas pelo diário espanhol.

O roubo ocorreu depois de, em 2017, agentes da Guarda Civil entrarem no prédio Mercasa por causa de duas investigações criminais em curso: Operações Lezo e Defex.

O caso envolve o luso-angolano Guilherme Taveira Pinto no caso de corrupção que investiga a sobrefacturação na obra de construção do mercado abastecedor de Luanda, em Angola.

O juiz espanhol do caso, José de la Mata, afirmava, em Abril do ano passado, no documento de notificação judicial citado pela Lusa, que Taveira Pinto recebia as transferências feitas por empresas espanholas e distribuía-as pelos "seus verdadeiros beneficiários finais".

A notificação faz um relato dos vários pagamentos feitos e os indícios colocam em evidência "a existência de uma estratégia concertada e executada entre Taveira e determinadas pessoas com vínculo ao consórcio para obter contratos com as autoridades angolanas através da entrega de dinheiro, presentes, viagens a altos funcionários responsáveis pela adjudicação e/ou execução dos mesmos. Estas dádivas eram sufragadas através da sobrefacturação dos orçamentos apresentados às autoridades angolanas".

O documento apontava ainda vários responsáveis técnicos angolanos e a "estreita relação" que Taveira Pinto tinha com um alto dirigente político angolano e um antigo embaixador de Angola em Espanha.

Estas diligências foram feitas no âmbito da investigação à "Mercasa", uma das principais empresas públicas espanholas, que faz a gestão dos mercados abastecedores nas principais cidades do país.

A empresa assinou, através da comparticipada "Mercasa Incatema", uma série de contratos para realizar um projecto para um mercado abastecedor em Luanda, num total de 533 milhões de euros, dos quais terão sido pagos 20 milhões de euros em comissões.

Segundo o documento de notificação, a situação que está a ser investigada indicia delitos continuados de "corrupção em transacções económicas internacionais, branqueamento de capitais e organização criminosa".

Esta investigação avançou de forma decisiva depois de conhecidas as ligações entre o caso de corrupção na companhia das águas de Madrid, "Canal Isabel II", e a empresa também pública "Mercasa".

O ex-presidente da Comunidade Autónoma de Madrid Ignacio González foi detido pela Polícia no quadro de uma operação anticorrupção à empresa pública "Canal Isabel II" e o seu irmão também foi detido, mas no âmbito da investigação à Mercasa.

O jornal El Mundo escreveu no final do ano passado que "a empresa pública espanhola Mercasa subornou o vice-ministro dos Comércio de Angola com caixas de bolachas cheias de notas para conseguir um grande mercado na capital, Luanda", citando uma denúncia apresentada por Armando Andrade, funcionário da Mercasa, e que teria também pago uma comissão de dois por cento sobre os 533 milhões de dólares do total contratado à Fundação Eduardo dos Santos (FESA).

A Fundação negou veementemente ter recebido qualquer pagamento da Mercasa.

O cidadão luso-angolano Guilherme Taveira Pinto é actualmente procurado pela justiça espanhola pelo seu envolvimento no desvio de fundos e pagamento de subornos.

Taveira Pinto é também procurado pelo seu envolvimento num outro caso envolvendo a venda de material de polícia a Angola no valor de 152 milhões de euros, dos quais pelo menos 60 milhões foram desviados para contas pessoais de entidades espanholas e angolanas

No caso da construção do mercado abastecedor de Luanda - que começou com orçamento de 219 milhões de euros e disparou para os 533 milhões -, a justiça espanhola acredita que o projecto nunca foi mais do que uma fraude, para cobrança de comissões avultadas.