A informação foi avançada sob anonimato ao Novo Jornal por vários funcionários que asseguraram estarem a viver momentos difíceis desde que a rede de hotéis IU e IKA viu a suas contas bloqueadas e passou a ter um novo gestor, o Estado, que não tem, segundo eles, mostrado interesse de ver a funcionar da melhor maneiro os hotéis.

A comissão de gestão indicada pelo Cofre Geral da Justiça reconhece a falta de salários dos funcionários, mas nega existir falta interesse do Estado em querer ver as contas desbloqueadas e prosseguir com o normal funcionamento, como garantiu o Novo Jornal um dos responsáveis da comissão de gestão dos hotéis IU e IKA, património de Carlos São Vicente, detido a 22 de Setembro último, após a justiça suíça ter congelado uma conta sua com 900 milhões de dólares.

A fonte garantiu que ainda este mês as contas dos hotéis IU e IKA podem ser desbloqueadas.

Os funcionários dizem não acreditar que efectivamente isso possa acontecer, porque não é a primeira vez que a comissão promete resolver o assunto.

"Desde que isto passou para a esfera do Estado, não há um pronunciamento nem nenhuma linha directiva. Já passaram dois meses sem salários e o pessoal vai sobrevivendo da forma que pode. Nenhuma resposta nos leva a acreditar que realmente alguma coisa está a ser feita, estamos a perder a esperança de ver essa situação solucionada", descrevem.

Segundo os visados, a grande preocupação, para além da falta de salários, é a forma como os novos responsáveis estão a dirigir os hotéis.

"Os hotéis já não servem o básico para os clientes, desde o papel higiénico ao fornecimento das refeições para os funcionários e hóspedes. Porque o nosso departamento logístico já não consegue produtos a crédito, ou seja, receber para pagar depois, fruto da situação dos bloqueios das contas".

E isso, prosseguem, está a originar muitas reclamações por partes dos clientes, por essa razão criámos uma tarifa que apenas engloba alojamento e nada mais. Assim, o cliente, quando entra, já sabe que irá pagar apenas o alojamento, sem direito a refeição.

"Quem quiser comer no hotel deve mandar vir de fora a sua alimentação e isso é um grande desconforto para os hóspedes. Até o mais básico, como os produtos de higiene, não se encontram nos hotéis da rede. Nem material para fazer higiene normal, isso mostra que os hotéis estão a degradar-se porque não temos condições de servir os clientes", relatam.

Os trabalhadores contam que nunca vivenciaram esse tipo de situação na empresa, o que os leva a temer uma possível falência dos hotéis.

"Agora servimos apenas para limpar paredes e deixar limpo o local. Não há nenhum "feed back" dos patrões em resolver a situação, a não ser pedir a calma".

Ao Novo Jornal, os funcionários confidenciaram que nesta altura a rede tem muitas dívidas com as empresas prestadoras de serviços e lamentaram a posição da PGR em não acautelar certas coisas aquando da orientação da apreensão dos hotéis.

"Muito dos nossos fornecedores trabalhavam a crédito, de forma a dar a rápida resposta às necessidades dos hotéis e todos aceitavam. Agora, dada a situação do bloqueio das contas e a apreensão dos hotéis, muitos fornecedores começaram a negar este tipo de pagamento".

Nesse momento, continuam, a nossa dívida é incalculável e já começámos a ter prejuízos elevadíssimos nos hotéis do Moxico, Lunda-Sul, Huambo e Benguela, onde a ENDE já cortou a energia eléctrica por falta de pagamento.

"Desde que as contas foram bloqueadas nunca houve pagamento para nenhuma das nossas obrigações, incluindo com o Estado. Hoje, nem água para beber há nos hotéis. Vemos clientes a implorarem por uma garrafa de água e têm de ligar para as empresas a pedir socorro", acrescentaram.

Segundo os funcionários, os responsáveis da comissão de gestão apenas se mostram interessados em saber quantos hóspedes ainda restam nos hotéis, o que leva os funcionários a pensar no pior.

Comissão de gestão promete resolver a situação do atraso salarial em breve.

Um dos responsáveis da comissão de gestão dos hotéis IU e IKA, indicada pelo Cofre Geral de Justiça, que solicitou anonimato, explicou ao Novo Jornal que a situação dos atrasos salariais deve-se ao facto de as contas da rede de hotéis estarem bloqueadas.

Mas assegurou que esta situação está a ser tratada a nível do Executivo, e que em breve os 600 funcionários dos hotéis IU e IKA poderão receber os seus ordenados.

O responsável negou existir falta de vontade do Cofre Geral de Justiça em ver melhorada a situação dos hotéis e garantiu estarem salvaguardados os postos de trabalhos de todos os funcionários da rede.

"Não vamos despedir ninguém, mas esperamos que todos cumpram com as suas obrigações laborais, enquanto na comissão de gestão tudo estamos a fazer para manter em funcionamento os hotéis e garantir os empregos", disse o membro da comissão de gestão.

De recordar que no passado da 8 de Setembro a Procuradoria-Geral da República (PGR) apreendeu os edifícios da AAA, da rede de hotéis IU e IKA em todo o País.

A PGR, que alega que os imóveis foram constituídos com fundos públicos, indicou como fiel depositário o Cofre Geral da Justiça.

Os activos foram apreendidos no âmbito do Processo de Investigação Patrimonial que envolve o empresário Carlos São Vicente, constituído arguido e sujeito a prisão preventiva por indícios dos crimes de peculato, participação económica em negócio, tráfico de influência e branqueamento de capitais.