A equipa, liderada por um oficial saído do Ministério do Interior, "com vasta experiência em investigação criminal e instrução processual", confrontou-se com "vários casos de nepotismo, peculato e corrupção em grande escala e, até, indícios de criminalidade organizada", segundo o Jornal de Angola, que afirma que, desde o início do ano, foi detectada, em diversas instituições do Estado, "a existência de dupla folha de salário, contratos para obras públicas pagas na totalidade ou em 50 por cento, sem que, contudo, tenham iniciado, despesas não cabimentadas ou realizadas em proveito próprio, situações de gestão da coisa pública como se de algo pessoal se tratasse, sem o cumprimento da legislação em vigor".

A fonte citada pelo Jornal de Angola afirma que são muitos "os casos de nepotismo, peculato e corrupção generalizada", sublinhando que "o comportamento assumido pelos gestores públicos, e de forma reiterada, indica que perderam o medo".

"Como foram muitos anos de impunidade, estes gestores começaram a agir de forma aberta, sem receio nem medo", declara a mesma fonte ligada às investigações em curso, avançando ainda que "há vários processos a darem entrada na Investigação Criminal e na Procuradoria-Geral da República, que, quando se conhecer o desfecho, muitos dos que lesaram ostensivamente o Estado não o farão de novo".

A lista de instituições já inspeccionadas é vasta: "Conselho Nacional de Carregadores (CNC), Secil Marítima, o Instituto Marítimo e Portuário de Angola, Caminho de Ferro de Luanda, Porto de Luanda, TCUL, TAAG, ENANA, Unicargas, Instituto de Transportes Rodoviários, Instituto Hidrográfico de Sinalização Marítima de Angola e INAVIC", e indica ainda que "foram igualmente realizadas inspecções à Elisal, Epal, e aos Governos provinciais de Luanda, do Cuando Cubango, da Huíla, Cuanza-Norte, Bié e Bengo, bem como aos Ministérios da Agricultura, Turismo, Ambiente e Saúde.

Mãos Livres elogia, UNITA desconfia

Salvador Freire, da Associação Mãos Livres, é de opinião que "João Lourenço representa, de facto, uma nova era na governação do País".

"Todos estes passos que estão a ser dados no combate à corrupção e às más-práticas são importantes. Durante muitos anos, não houve inspecções, não houve qualquer investigação. Lourenço tem demonstrado que está interessado numa governação mais responsável".

O Presidente da Mãos Livres diz que os últimos acontecimentos têm mostrado que "o Estado está preocupado com a corrupção nas suas instituições e que a prática de João Lourenço tem correspondido ao discurso".

"Lourenço defendeu que era preciso um combate cerrado à corrupção e uma moralização da sociedade angolana, quer durante a campanha, quer depois de tomar posse. Acontece que ele está na presidência há pouco tempo e todos os sinais são positivos", refere.

No entanto, afirma Salvador Freire, "para que os angolanos continuem a acreditar é preciso que os culpados sejam levados à barra do tribunal e sejam punidos".

Também Alcides Sakala, porta-voz da UNITA, defende mão pesada para os infractores, o que, segundo o deputado, "não parece que vá acontecer".

"Tem de haver responsabilização e não me parece que seja o caso. Isso viu-se na Lei do Repatriamento de Capitais, quando o Governo não quis aprovar a proposta da UNITA, preferindo uma versão em que os amiguismos estão protegidos".

"Esta inspecção vem aliás confirmar aquilo que há muito vimos dizendo: A corrupção no País é transversal, está enraizada, o partido no poder tem mesmo açambarcado tudo", acrescenta Sakala.

Na opinião do porta-voz do maior partido da oposição, "se o Presidente da República não passar uma mensagem clara de que todas as infracções são devidamente punidas, se não houver despartidarização do Estado, se continuar a ser recusada uma auditoria, isto é apenas discurso".

De recordar que o Presidente da República (PR), João Lourenço, que assumiu como uma das prioridades da sua governação o combate à corrupção, tem vindo a afirmar que a impunidade é responsável pelos altos níveis de corrupção no país.
"O nosso combate pela legalidade e pelo fim da impunidade de quem a desrespeita será um combate de todas as horas", afirmou o PR na mensagem de fim de ano", reiterando a promessa de "dar passos decisivos para moralizar a nossa sociedade ".