Este templo, um dos principais da IURD em Luanda, estava ocupado desde segunda-feira, 22, pela facção angolana dos pastores desta igreja, que integram a denominada Comissão de Reforma da IURD, que expulsou a parte brasileira, por alegados actos, entre outros, de racismo e exportação ilegal de divisas.

A parte brasileira surpreendeu a Comissão de Reforma da IURD, no Morro Bento, por volta das 03:00, numa tentava de reaver a Catedral tomada pelos angolanos, soube o Novo Jornal de fonte policial.

O porta-voz da Comissão chegou a fazer declarações acusado os "brasileiros" de terem chegado ao tempo do Morro Bento armados, embora a polícia tenha desmentido que tal tenha ocorrido.

Durante a tentativa de tomada, à força, do templo, houve resistência da parte angolana que não aceitou abandonar o local, chamando aa Polícia Nacional (PN), assim como efectivos da SIC, que em pouco tempo chegaram ao local para manter à ordem e a tranquilidade pública, e evitar que o pior acontecesse.

Segundo o porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, inspector-chefe Nestor Goubel, tanto a parte brasileira como a parte angolana foram encaminhados para a 21.º esquadra, no Rocha Pinto, para prestarem declarações.

"Eles não estão detidos, apenas convidamos os jovens e os pastores brasileiros, assim como os angolanos, a depor em função do sucedido durante a madrugada. Tão logo termine o depoimento, o caso será entregue ao Ministério Público", disse Nestor Goubel, ao Novo Jornal.

O porta-voz da PN em Luanda assegurou que as autoridades estão a acompanhar toda a situação da Igreja Universal do Reino de Deus mas caberá aos tribunais decidirem a problemática que a IURD esta a viver.

Na segunda-feira, 22, um movimento de bispos e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus tomaram 30 templos em seis províncias do País, designadamente Benguela, Kwanza-Sul, Huambo, Malanje e Namibe.

Sob liderança do bispo Valente Bezerra, os pastores angolanos decidiram romper com a representação brasileira em Angola, encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves, a quem acusam de uma série de irregularidades.

O movimento reivindicativo diz-se pronto para iniciar as reformas na igreja e não aceita ser conotada com dissidência nem o rótulo de "ex-pastores", como os brasileiros pretendem fazer passar junto da opinião pública.

"A Comissão Instaladora da Igreja Universal do Reino de Deus Reformada em Angola, continua a testemunhar actos de discriminação racial, castração, abortos forçados às esposas dos pastores angolanos e usurpação das competências da assembleia-geral de pastores", disse ao Jornal de Angola, o pastor Agostinho Martins da Silva, porta-voz da referida denominação.

Estas acusações juntam-se às de fuga de divisas para o estrangeiro, acusação que já remonta a 2016, como o Novo Jornal noticiou na altura, quando um ex-bispo desta igreja, Alfredo Paulo, fez severas acusações à liderança da IURD em Angola.

Situação é tensa desde 2016

Entretanto, segundo o porta-voz dos 300 pastores angolanos, a Comissão Instaladora decidiu montar o seu "Estado-Maior" na Catedral do Morro Bento, localizada na Avenida 21 de Janeiro, em Luanda.

O abuso de confiança na gestão financeira, assim como as irregularidades no pagamento da segurança social aos pastores e privação de visitas aos familiares, estão igualmente na base desta rotura com os pastores brasileiros.

De recordar que, em Novembro do ano passado, os bispos e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola anunciaram, em Luanda, a rotura com o bispo Edir Macedo, por, alegadamente, este ter desenvolvido práticas doutrinais contrárias.

Num comunicado assinado por mais de 300 bispos e pastores angolanos, estes contaram, na ocasião, que a liderança brasileira, por orientação de Edir Macedo, passou a forçar os pastores angolanos a submeterem-se ao procedimento cirúrgico de "esterilização", tecnicamente conhecido como vasectomia.

Esta prática viola, de acordo com os contestatários, de forma grave, os direitos humanos, de acordo com a Constituição da República de Angola.

Os bispos e pastores angolanos acrescentam que, além disso, a liderança brasileira tem promovido a evasão de divisas para o exterior do País.

No mesmo mês, o director de Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Ministério do Interior, subcomissário Waldemar José, disse que uma comissão formada por representantes dos ministérios do Interior, da Cultura e da Justiça e Direitos Humanos estavam acompanhar as investigações na IURD e que a mesma se encontrava sob sigilo.

Apesar disso, Waldemar José, afirmou que "todos os indícios probatórios estão a ser investigados e isso vai permitir que seja determinada a relação criminal entre todos os envolvidos. Caso as denúncias sejam comprovadas, os responsáveis, individualmente ou até mesmo colectivamente, serão legalmente responsabilizados".

O Novo Jornal procurou saber hoje, junto do director de Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Ministério do Interior, como está o processo da IURD, mas Waldemar José, respondeu apenas que há processos a serem instruídos pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC).

Em comunicado, a direcção da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola, avisa os seus membros fiéis e simpatizantes que, devido aos recentes acontecimentos desencadeados por actos de invasão e rebelião, por parte dos ex-pastores, às igrejas não abrirão para a realização dos cultos presenciais, mantendo os seus templos fechados, em todo o território nacional até a data anunciar.

A direcção da IURD Angola diz que não há divisão na igreja, e que o grupo de ex-pastores angolanos ocupou ilegalmente os templos.

No comunicado, à Igreja pede que os órgãos de direito intervenham o mais breve possível, na resolução do conflito.