Durante a conferência de imprensa, o Gabinete Institucional e Imprensa da Presidência da República definiu que cada órgão formulasse apenas uma pergunta.

Dos mais de 150 jornalistas presentes, alguns não tiveram a oportunidade de intervir e esperam que nas próximas oportunidades o quadro altere.

O director do Folha8, William Tonet, entende que o Presidente da República, para além da conferência de imprensa, deverá, doravante, priorizar entrevistas individuais.

"Em outros países é um exercício normal o que acontece hoje aqui na Cidade Alta. Passados 38 anos, só hoje um Presidente da República aparece com esta iniciativa de convocar uma conferência de imprensa colectiva", destacou Willian Tonet, referindo que, apesar das limitações de perguntas, houve um trabalho razoável.

Segundo Willian Tonet, o Presidente da República devia fazer deste tipo de encontros um exercício permanente.

O jornalista da Agência France (AF), Frederico Francisco, saúda a iniciativa, frisando que desde há 38 anos que "não era fácil órgãos de comunicação, sobretudo privados, entrarem na Cidade Alta".

"Estamos a viver uma nova era", resumiu.

O delegado da Agência Lusa, Paulo Julião, disse que a entrevista colectiva é um primeiro passo", acrescentado que o Presidente devia falar mais sobre a situação económica do país, numa altura em que os deputados se preparam para aprovar o Orçamento Geral do Estado 2018.

"Algumas coisas estão a mudar em Angola. Vimos que algumas perguntas provocatórias foram respondidas", disse Paulo Julião.

O chefe de redacção do Semanário "A Liberdade", Albino Sampaio, elogiou a receptividade do Presidente da República em estender o sinal da emissora Católica de Angola a todo território nacional.

"A igreja Católica é um parceiro privilegiado do Governo angolano. Não faz sentido, até agora, o sinal da sua expansão estar limitado apenas à capital e arredores", lamentou.

O jornalista Fonseca Bengui, do Jornal de Angola, disse que iniciativas do género devem continuar, visto que o Presidente da República não falou só aos jornalistas, mas sim aos angolanos.

"Através da comunicação social, o Presidente da República passou a sua mensagem aos angolanos", acrescentou.

Fraca participação de jornalistas

Para vários cidadãos que acompanharam a primeira entrevista colectiva com órgãos estatais, privados e estrangeiros, muitas perguntas ao Presidente da República ficaram por fazer.

É o caso do professor universitário Almeida Saturnino Bambi, que lamenta que "nenhum jornalista tenha colocado uma pergunta sobre a situação da educação em Angola".

"A educação é um sector chave. Nenhum jornalista presente nesta conferência de imprensa colectiva disse algo relativamente ao sector", disse o professor, recomendando que "nas próximas oportunidades" haja "uma melhor preparação por parte dos profissionais".

Para o funcionário público Artur Sabalo, o Governo anunciou este ano que não haverá concursos públicos na função pública, mas nenhum profissional de informação perguntou como é que o Governo vai resolver o problema do desemprego.

"O desemprego é um caso sério no nosso país. Eu esperava que um jornalista perguntasse qual será a estratégia do Executivo para a promoção do emprego", sugeriu.

Algumas províncias do país enfrentam a epidemia de cólera e malária. Na conferência colectiva, segundo o enfermeiro Francisco Suba, os jornalistas ignoraram este assunto que tanto preocupa a sociedade.

"Foi triste, os nossos profissionais passaram ao lado deste problema. A malária e a cólera que estão a dizimar muitos angolanos por falta de medicamentos nos hospitais", disse.

O analista político Armando Pires Panzo gostaria que os jornalistas tivessem interrogado o Presidente da República sobre a política externa de Angola, especialmente na República Democrática do Congo (RDC), onde a situação inspira cuidados.