A primeira audição dos dois acusados aconteceu a 19 de Março último sem a presença do ofendido nem do seu advogado, apesar de o ex-PGR João Maria de Sousa ter desafiado o director do Maka Angola, onde o texto foi publicado, a chamá-lo corrupto em tribunal.

Na origem do julgamento está uma publicação de Rafael Marques no site Maka Angola, em Outubro de 2016, onde este levanta suspeitas de corrupção contra o então Procurador-Geral da República de Angola, João Maria de Sousa.

Mariano Brás surge como réu neste processo por ter republicado a notícia de Marques no jornal O Crime, onde é director.

O artigo de Rafael Marques denuncia o negócio alegadamente ilícito realizado pelo ex-PGR de Angola envolvendo um terreno de três hectares em Porto Amboim, província do Kwanza-Sul, para construção de um condomínio residencial.

"Ao longo do exercício da função de Procurador-Geral da República, o general João Maria Moreira de Sousa tem demonstrado desrespeito pela Constituição, envolvendo-se numa série de negócios", referia a notícia, acrescentando que esse comportamento contava "com o apadrinhamento do Presidente da República, José Eduardo dos Santos".

Aquando da publicação do texto, José Eduardo dos Santos era ainda Presidente da República, cargo em que foi substituído por João Lourenço, na sequência da vitória do MPLA nas eleições gerais de 23 de Agosto de 2017.

A notícia, que apresenta duras críticas ao regime angolano, resultou numa queixa do ex-PGR e mais tarde na acusação formal do Ministério Público (MP), a 21 de Junho de 2017.

A acusação do MP refere que no decurso das diligências realizadas foi possível apurar, junto do departamento do Instituto Geográfico e Cadastral de Angola (IGCA) no Kwanza-Sul, que o ofendido "efectivamente requereu e lhe foi deferido o título de concessão do direito de superfície" do terreno em causa a 25 de Maio de 2011, mas que o perdeu a favor do Estado um ano depois por "falta de pagamento dos emolumentos".

Presidente da Câmara dos Representantes dos EUA apelou a favor de Rafael Marques

O MP refere também a "violação de princípios" da "ética e da deontologia profissional", que se traduzem em "responsabilidade civil, disciplinar e/ou criminal".

O presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Paul Ryan, apelou na plataforma digital Twitter que fosse retirada a acusação contra os dois jornalistas.

"A liberdade de expressão é uma forma básica de controlo da corrupção. Deixem cair a acusação contra Rafael Marques de Morais e Mariano Brás Lourenço", escreveu Paul Ryan a 26 de Junho de 2017.

Poucos dias antes, a 7 de Junho, Rafael Marques foi homenageado em Washington pela sua luta contra a corrupção numa cerimónia do National Endowment for Democracy, palco em que discursou Paul Ryan.