Objectos a arder na estrada, carros a tentarem contornar os obstáculos, postes de electricidades atirados para o meio da via, foi o cenário que, na terça-feira, rapidamente passou para as redes sociais em vídeos amadores.

Pouco depois, a polícia chegada ao local com dezenas de efectivos, tendo desempedido a estrada, foram detidos pelo menos meia centena de pessoas e, durante os tumultos, uma morreu e várias ficaram feridas.

Tudo aconteceu, segundo explicou o porta-voz da Polícia Nacional, Nestor Goubel, quando as autoridades municipais de Cacuaco, a que pertence o Sequele, foram fiscalizar uma área, também dconhecida por bairro Merengue, onde estavam erguidas habitações precárias para a sua posterior demolição, ocorrendo então a revolta dos populares.

Estas ocorrências tiveram lugar na via de acesso à centralidade do Sequele, a única que existe, e que tem ligação à Via Expressa/Fidel de Castro, estando, pouco antes da centralidade que dá nome à área, repleta de casebres, numa zona extensa e dispersos, definida como "reserva do Estado" para a segunda fase de construção da centralidade local.

Os populares, algumas centenas, apedrejaram as viaturas que circulavam entre a centralidade e a Fidel Castro, tendo, depois, com a chegada da PN, as suas viaturas sido igualmente atingidas.

Por seu lado, o administrador municipal de Cacuaco, Auxílio Jacob, disse à Rádio Nacional que as pessoas que bloquearam a estrada e apedrejaram as viaturas são "grupos organizados" constituídos por antigos funcionários da administração local e ainda figuras graúdas das Forças Armadas Angolanas e da Polícia Nacional.

O objectivo é criar condições para construir ali e fragilizar as autoridades de forma a criar uma situação de facto, passando as construções precárias a definitivas, aponta Auxílio Jacob.

A vítima mortal foi um dos populares que, depois de apedrejar uma viatura, foi alvejado a tiro pelo condutor, que se colocou de imediato em fuga.

A polícia está a investigar e a procurar o alegado homicida.

A "luta" entre as autoridades municiais e os populares que insistem em construir no bairro Merengue, já é antiga, tendo o município de Cacuaco uma acção permanente para evitar as construções anárquicas.

Em Junho de 2018, eram 1.500 as casas que estavam na mira dos buldozers, serão hoje bastantes mais, e a ordem já estava dada para a sua demolição por parte da administração municipal.

Na ocasião, o então director do gabinete de comunicação institucional e imprensa da administração municipal de Cacuaco, João Grácia, dizia ao Novo Jornal que alguns cidadãos, "na sua maior parte oportunistas e invasores", que receberam os terrenos dos camponeses, muitas vezes com ameaças, apercebendo-se do plano de expansão da cidade do Sequele, foram ocupando os terrenos para construções ilegais e desordenadas que comprometem o projecto.

"Toda aquela população do bairro Merengue não tem qualquer título que lhes dê direito àquelas terras, porque, em nenhum momento, eles requereram a obtenção dos espaços que ocupam, e, desta forma, as ocupações são anárquicas e ilegais", disse, numa notícia que o Novo Jornal publicou a 01 de Junho e pode ser lida aqui.

Os moradores, por seu lado, dizem que muitos são moradores antigos na zona, quase todos esses mais antigos, agricultores, que erguerem habitações nos seus terrenos por não terem outros.

Mas nem todos têm estas raízes na zona, que em tempos era apenas de agricultura de subsistência em terrenos hoje valiosos mas que, antes da construção da centralidade, não tinham qualquer valor comercial.