Com maior ênfase em Luanda mas com episódios relatados também noutras províncias, o fenómeno até agora sem explicação, apesar de já durar desde 2010, aterrou agora no Lubango, com 76 alunos, na sexta-feira, a serem transportados para os hospitais ou a terem de receber cuidados médicos no local e, ontem, segunda-feira, foram 106 que desmaiaram.

Os relatos dos poucos alunos que falaram com a imprensa deixam apenas perceber que os alunos envolvidos sentiram fortes dores de cabeça e mal-estar, desmaiando de seguida, na sua maioria raparigas mas o fenómeno atingiu também rapazes.

Com estes dois episódios o medo espalhou-se entre os alunos e isso foi o suficiente para que a escola se encontrasse hoje praticamente vazia.

Para encontrar uma explicação para o sucedido, o director do Colégio Esperança, Salomão Chipeco, citado pela Angop, revelou que a direcção da escola está em comunicação próxima com a polícia, os bombeiros e os médicos.

Neste caso específico, a polícia, sobre os desmaios de sexta-feira, já admitiu suspeitar de gás pimenta espalhado no recinto escolar mas no caso de ontem ainda não tem ideia das causas dos desmaios.

A dispersão de gases foi uma das possibilidades apontadas num estudo (ver resto do texto) mas acabou por ser descartada.

Estes dois episódios envolveram pouco mais de 180 dos 1 900 alunos do Colégio Esperança.

"Transmite-se pelo olhar"

Os desmaios entre estudantes das escolas angolanas ganhou maior dimensão há cerca de quatro anos, tendo, nessa altura, sido constituída, por decisão do Presidente da República, uma comissão interministerial, com a participação da Organização Mundial de Saúde e da Protecção Civil para estudar o que está na origem destas ocorrências mas, segundo uma fonte de um dos organismos que integrou esta comissão, até ao momento a única conclusão é que a investigação foi inconclusiva.

Uma das questões que foi considerada importante durante o estudo, segundo a mesma fonte, é que, provavelmente, o agente ou os agentes, ou as condições que levam ao surgimento dos desmaios, não são detectados nas análises porque estas não são efectuadas no local devido à urgência de retirar as pessoas do sítio onde estes acontecem e enviar as vítimas para as unidades hospitalares.

Recorde-se que em 2011, após um elevado número de desmaios ter sido registado, as autoridades angolanas recolheram amostras sanguíneas de alunos afectados, enviando-as para laboratórios em Portugal e na África do Sul, embora estas não tenham revelado as causas do fenómeno.

Na altura, a Polícia Nacional iniciou investigações sobre este problema e chegou mesmo a deter algumas pessoas por terem libertado alguns tipos de gás lacrimogéneo e gás pimenta em escolas, mas isso não se provou suficiente nem razão plausível para os desmaios porque estes continuaram e até se intensificaram.

Perante este muro intransponível para se chegar à origem deste fenómeno, meio a brincar, mas provavelmente também a sério, chegou a alastrar em algumas localidades a ideia de que a "doença" se transmitia só pelo olhar.

Especulação e pouco mais

Alguns dos sintomas mais comuns entre os jovens afectados são um mal-estar generalizado, fraqueza, dificuldade em respirar, vómitos e, no fim, o desmaio. Mas a origem do fenómeno continua por esclarecer.

Algumas versões que foram sendo publicadas na imprensa, nacional e estrangeira, defendem, entre outras razões, a possibilidade de se tratar de um químico natural, provavelmente libertado por alguma planta desconhecida em determinadas épocas do ano.

A fraqueza dos alunos por alimentação insuficiente e o mimetismo ou os desmaios provocados por sugestão, também são possibilidades tidas em consideração.