Em entrevista à Lusa, Robert Besseling considerou que a detenção do antigo líder do fundo soberano de Angola "mostra que o Presidente João Lourenço sente-se politicamente confiante e confortável para ir atrás dos membros mais importantes do Governo anterior".

Besseling lembrou que as acusações de fraude na gestão do fundo soberano de Angola, dotado de 5 mil milhões de dólares, "já andavam pela imprensa internacional há algum tempo", e vincou que, nesse sentido, "os investidores podem ver a notícia da sua detenção e pensar que o Governo está realmente a melhorar as condições e as perspectivas para o investimento estrangeiro".

O director executivo da consultora EXX Africa alerta, no entanto, que é preciso ter em conta que "a luta de João Lourenço contra a corrupção não é apenas uma cruzada contra os corruptos, é também um conjunto de acções politicamente motivadas com o objectivo de assegurar o seu próprio poder no partido e no país".

A motivação, salientou, "tem de ser questionada, porque não é só um novo Presidente da República a tentar afastar os corruptos ou aqueles que percepciona como más influências, isto é também um novo Presidente, sem base política, a consolidar a sua autoridade política não só no MPLA, mas também no novo Governo".

'Zenu', como é conhecido em Angola, é acusado, segundo a PGR, de envolvimento num crime referente a uma alegada burla de 500 milhões de dólares, processo já remetido ao Tribunal Supremo, bem como, ainda em fase de instrução, de num processo-crime relacionado com actos de má gestão do Fundo Soberano de Angola, em que é também arguido o empresário suíço-angolano Jean-Claude Bastos de Morais, sócio de José Filomeno dos Santos em várias negócios, e que está também em prisão preventiva na cadeia de Viana.

Segundo a PGR, da prova recolhida nos autos resultam indícios de que os arguidos incorreram na prática de vários crimes, entre eles, o de associação criminosa, recebimento indevido de vantagem, corrupção, participação económica em negócio, puníveis na Lei sobre a Criminalização das Infracções Subjacentes ao Branqueamento de Capitais e os crimes de peculato, burla por defraudação, entre outros.

"Pela complexidade e gravidade dos factos, com vista a garantir a eficácia da investigação, na sequência dos interrogatórios realizados, o Ministério Público determinou a aplicação aos arguidos da medida de coacção pessoal de prisão preventiva", lê-se no comunicado, salientando que a instrução prossegue os seus trâmites legais, com carácter secreto.

Em relação a Augusto Tomás Silva, também num comunicado, a PGR referiu que o processo corre os seus trâmites na Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DNIAP), relacionado ao caso que investiga actos de gestão do Conselho Nacional de Carregadores (CNC), órgão afeto ao Ministério dos Transportes.

O documento informa também que, além do ex-governante, foi igualmente detido Rui Manuel Moita, ex-director-geral adjunto para a Área Técnica do CNC.