Milhares de cidadãos com VIH-Sida no país estão, desde Abril, sem anti-retrovirais de segunda linha, devido à falta dos mesmos. O problema, apurou o Novo Jornal, agravou-se desde Março, com a entrada em vigor do estado de emergência.

Doentes ouvidos por este semanário lamentam a situação e temem pelo agravamento do seu estado de saúde. Uma das pessoas é Maria Albertina, seropositiva há mais de 10 anos. A funcionária pública conta que, desde Abril, não tem tido acesso a medicamentos, que recebia habitualmente a cada dois meses no Hospital Esperança, um dos centros de saúde de referência no tratamento da doença em causa.

"Desde Abril, tenho ido ao hospital, dizem sempre que não há medicamentos e que a opção é recorrer aos outros centros, como, por exemplo, a Clínica Multiperfil", explica.

Os diversos centros por onde Maria andou à procura de medicamentos dizem a mesma coisa. "Não há anti-retrovirais" para os que fazem tratamentos de segunda linha. Mas, como recomendação, foi orientada que se alimentasse de forma regrada.

"Os médicos estão a aconselhar os doentes a irem para a casa e, segundo eles, durante esse tempo, vamos ficar sem a medicação; aconselham-nos também que nos alimentemos bem", conta.

Maria teme que, diante desta situação, haja outras consequências no seu estado de saúde.

"Já passam mais de dois meses sem fazer a medicação. Tenho medo que isso me traga outras consequências piores", sublinha, lamentando que o país esteja engajado na luta contra a Covid-19 e se esqueça de outras patologias.

"Todas as semanas estão a chegar toneladas de medicamentos e outros materiais de biossegurança, porque é que não se faz o mesmo com os anti-retrovirais?", questiona. "Somos todos doentes. Não podem abandonar-nos", acrescenta.

À semelhança de Maria Albertina, o casal Jorge Morgado e Elisa Morgado não consegue medicamentos.

"Eu e a minha esposa já andámos pelos diversos centros, à procura destes medicamentos, mas sem sucesso", revela.

Segundo Jorge, foi-lhes informado que a escassez de medicamentos se deve à Covid-19 e que alguns estão a ser usados para o tratamento de doentes com o novo coronavírus. "Não é justo. E assim ficamos sem o medicamento?", pergunta.

Jorge apela para que se resolva a situação em tempo oportuno, a fim de que voltem a ter medicação sem problemas, como antigamente. "Há muito tempo que não passava por essa situação", declara