Por detrás desta "montanha russa" em que estão a viver os mercados petrolíferos está o anúncio feito na terça-feira pelo presidente da Reserva Federal dos EUA, Jerome Powell, de que são de esperar novas mexidas nas taxas de juro, para cima.

Aumentar as taxas de juro tem sido a ferramenta predilecta da Reserva Federal, o banco central norte-americano, para controlar a historicamente alta inflação e a ameaça de uma recessão que ainda não deixou o horizonte para onde se dirige a economia dos Estados Unidos, muito por causa dos estilhaços globais da guerra na Ucrânia.

Neste cenário, o barril de Brent estava esta manhã, perto das 11:40, a subir muito ligeiramente, cerca de 0,10%, para os 83,41 USD, o que é uma substantiva melhoria face ao que se viu na terça-feira, uma queda de mais de 3 USD que deixou os cabelos em pé a quem monitoriza nesses momentos os gráficos dos principais mercados deste negócio planetário.

Todavia, como não há forma de o negócio do crude ser controlado pelo pensamento dos governantes das economias petrodependentes, como ainda é o caso de Angola, apesar dos esforços do Governo para a diversificação da sal economia, da China, o maior importador global e a segundo maior economia mundial, chegaram igualmente notícias pouco simpáticas.

Isto, porque, apesar de os dados das últimas semanas serem bons, com a abertura verificada após longos meses de confinamentos severos devido à Covid-19, a China está agora a absorver a natural rectificação dos mercados que, tal como a gravidade empurra a água para o centro e para baixo, convergem para o equilíbrio possível entre a procura e a oferta.

E sobre a oferta, a OPEP, a propósito da China, já veio dizer que não há razões para grandes inquietações, porque o gigante asiático deve observar um aumento na ordem dos 500 mil a 600 mil barris por dia à medida que 2023 se espraia pelos meses vindouros.

O secretário-geral da OPEP, Haitham Al Ghais, num discurso na CERAWeek, conferência sobre energia glonal em Houston, Texas, EUA, que a abertura da China vai continuar a dar frutos e o cartel está "conscientemente optimista" apesar de saber das múltiplas ameaças que pendem sobre a economia global.

Segundo a Reuters, a organização espera que o consumo mundial cresça 2,3 milhões de barris por dia em 2023, sendo o motor deste crescimento os países asiáticos, com a China e a Índia em primeiro plano.

Menos optimista, a Agência Internacional de Energia estima que este aumento estanque nos 2 milhões de barris por dia, sendo, no entanto, as justificações semelhantes, a melhoria do consumo na China, que deve crescer ainda mais que o previsto pela OPEP, para 1 milhão de barris/dia.

Estes números deixam anda perceber que as sanções historicamente pesadas do ocidente à Rússia, por causa da invasão da Ucrânia, não estão a impactar a saída de crude e gás russos para o mundo, porque China e Índia colmataram as perdas para a Europa ocidental.

Todavia, as repetidas subidas nas taxas de juro dos bancos centrais ocidentais para combater a inflação, para já com pouco sucesso, podem ser outro elemento a modificar o curso normal da história da economia global.

Mas, até ver, para Angola, este bom momento do sector petrolífero, e da economia global, são boas notícias

Este cenário é especialmente importante para Angola porque, apesar da diminuição continuada da produção nacional, ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.