Em cima da mesa está, no topo dos assuntos a discutir, a verificação do cumprimento dos cortes assumidos por cada um dos signatários do acordo de cortes para impulsionar os ganhos de finais de 2016.

Esta reunião em Abu Dhabi surge num momento em que começa a ficar consolidado o cenário mais temido pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e os seus aliados não-membros, com destaque para a Rússia e Cazaquistão, que é a estagnação dos preços do barril escassamente acima dos 52 dólares, apesar dos 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) a menos nos mercados desde 1 de Janeiro.

Os 52,2 dólares norte-americanos a que está a ser transaccionado o barril de Brent, em Londres, que é o valor indicativo para as exportações angolanas, pouco ou nada alterado em meses, só não serve os interesses das economias exportadoras e petrodependentes como também surge como um problema para as mais débeis, que estão a sentir dificuldades em cobrir as perdas relacionadas com a menor produção com o aumento do preço verificado.

Face a isto, Adu Dhabi surge neste momento aos olhos dos mercados como mais um esforço, depois de terem reunido na Rússia há escassas duas semanas, para resolver o problema que parece contrariar todas as lógicas, respondendo a esta pergunta: porque é que com tamanhos cortes, os mercados tardam tanto a responder com a esperada alta nos preços do barril?

Ao que é possível concluir neste momento, atendendo ao que pensam alguns analistas dos mercados petrolíferos, é que tem de haver uma razão para contrariar a ascensão, visto que as reservas norte-americanas e chinesas têm vindo a diminuir aos milhões de barris por semana e o alternativo petróleo de xisto, ou "fracking" norte-americano não tem vindo a recuperar como se temia.

E essa razão pode muito bem ser aquilo que em Novembro de 2016, quando foi esboçado o acordo OPEP+Rússia e outros para cortar 1,8 mbpd, até, depois de reformulado, Março de 2018, que é o não cumprimento dos cortes assumidos pelos parceiros, como, alias, sempre aconteceu em acordos semelhantes do cartem no passado.

Nestes dois dias, que se presume que vão ser intensos e até com algumas fricções pelo meio, em Abu Dhabi, e depois de a Arábia Saudita ter assumido ainda mais cortes para um mínimo histórico na sua produção diária de 6,6 milhões bpd, a pressão sobre os incumpridores adivinha-se intensa.

A esta pressão Angola não deve ser sujeita porque o Ministério dos Petróleos já por diversas vezes reafirmou que os 78 mil bpd com que se comprometeu estão a ser devidamente respeitados, até porque a economia angolana precisa de ver rapidamente o barril a, como adiantou o ministro Botelho de Vasconcelos (na foto) há uns meses, entre, pelo menos, os 60 e os 70 USD para que a economia do país possa respirar de novo.

Mas há mais para ver nesta reunião. Se, por exemplo, a Líbia e a Nigéria, países que ficaram de fora do acordo devido às crises político-militares que estavam e estão a viver, vão acatar o compromisso de não aumentar a sua produção a partir de um certo nível, até porque estes dois países africanos estão a ser apontados como responsáveis por uma boa parte do excesso de oferta que está a contrariar o esforço conjunto.

Mas, por entre algum optimismo e receio de que os países exportadores não consigam compartimentar as suas produções de crude, só no fim da reunião, na terça-feira, se saberá se a garantia do congelamento da produção foi alcançado e, ainda mais importante, que garantias e sinais de o fazerem poderão ou serão exigidos aos membros e não-membros do cartel.