Um dos pontos de maior fricção entre sul-africanos e norte-americanos foi a decisão de Pretória liderar uma acusação de genocídio contra Israel, um dos principais aliados dos EUA em todo o mundo, pelo seu empenho militar em Gaza.

Mas os problemas entre os dois países começaram antes, e têm na proximidade da África do Sul à Rússia, que foi mesmo acusada de estar a ajudar no seu esforço de guerra com a Ucrânia, permitindo o tráfico de armas através dos seus portos, e à China, no contexto dos BRICS.

Mais recentemente, num acumular de problemas, a Administração Trump veio acusar o Governo de Cyril Ramaphosa de "genocídio" da comunidade branca, ao fomentar a criminalidade sobre a minoria afrikaner.

Apesar desta acusação não ter fundamento, não apenas porque os números da criminalidade na África do Sul mostram que não esta comunidade especialmente visada no fenómeno da criminalidade, mas porque o actual Governo é uma coligação que integra, além do Congresso Nacional Africano (ANC), a Aliança Democrática (AD), que é vista como os "herdeiros" do regime do apartheid.

A acusação de genocídio sobre os fazendeiros sul-africanos foi categoricamente rejeitada pelo Governo de Pretória, levando o Presidente Ramaphosa a pedir com urgência um encontro com o seu homologo norte-americano, Donald Trump, que recentemente abriu as portas aos "refugiados" sul-africanos brancos, recebendo mesmo já o primeiro charter com meia centena de pessoas.

O Presidente sul-africano, como se depreende das muitas notícias sobre este tema que estão nos media do país, vai a Washington esta quarta-feira, 22, para demonstrar a Donald Trump que não só é mentira qualquer perseguição à comunidade branca como é do interesse dos dois países manter as boas relações, estando actualmente no seu ponto mais baixo desde 1994, quando desmoronou o regime racista do apartheid.

No entanto, este encontro tem tudo para poder ser mais uma visita explosiva à Casa Branca, com alguns media sul-africanos a admitirem que Trump e o seu vice-Presidente, JD Vance, não vão perder a oportunidade de fazer com Ramaphosa o que fizeram em Abril com o ucraniano Volodymyr Zelensky, numa humilhação sem precedentes (ver aqui).

O que parece ser uma forte possibilidade porque, como nota o site AfricaNews, na agenda dos temas elaborada pela Casa Branca está a exigência para que Ramaphosa afaste e condene políticos que "promovem a retórica genocida" contra a comunidade branca, o que engloba, potencialmente, vários dirigentes sul-africanos, incluindo do próprio ANC se o o tema for forçado.

Aparentemente, como defendem alguns analistas na África do Sul, este tema terá sido instigado por Elon Musk, o multibilionário dono da Tesla e da Space X, sul-africano, que é um dos conselheiros e colaboradores de Donald Trump mais próximos, apesar de já menos exposto.

Tal empenho por parte de Musk tem como combustível alguns episódios ocorridos no último ano, especialmente, em que um número reduzido, e sem significado estatístico, segundo as autoridades, de agricultores brancos foram mortos com brutalidade durante a invasão das suas fazendas por grupos de marginais.

Mas Ramaphosa tem ainda outra missão em mente, que é procurar convencer o seu interlocutor para não boicotar a Cimeira do G20 que este ano terá lugar em Joanesburgo, de 21 a 23 de Novembro.

O que parece não ser fácil, porque Marco Rubio, o secretário de Estado norte-americano, disse já esta semana que os EUA não estarão porque a África do Sul se tem posicionado sempre contra os interesses dos EUA "uma e outra vez, repetidamente", deixando claro que a questão israelita é uma delas.

Recorde-se que o afastamento dos EUA de Pretória coincidiu com a aproximação da Administração Biden, que antecedeu a actual, a Angola, o que Donald Trump, para já, ainda não deu mostras de querer manter a esse mesmo e elevado nível.