Uma explosão na pequena cidade polaca junto à fronteira com a Ucrânia, ao final do dia de terça-feira, lançou um alvoroço mundial pela possibilidade de se tratar de um ataque deliberado das forças russas a um país da NATO, o que daria lugar a uma imediata resposta da Aliança Atlântica, prevista no Artº 5 dos seus estatutos, que impõe que o ataque a um seja encarado como um ataque a todos os 30 membros desta que é a mais poderosa e abrangente organização militar planetária.

Face ao risco contido num tal cenário, mesmo que hipotético, o Pentágono norte-americano, autoridade militar máxima dos EUA, foi o primeiro a reagir aconselhando cautelas, anunciado que não havia dados que pudessem indicar sem dúvidas que se tratava de uma agressão premeditada da Federação Russa a um Estado-membro da NATO, tendo, logo de seguida, Moscovo negado que tenha sido uma arma sua a cair na cidade de Przewodow.

Embora alguns países mais belicistas, como é o caso da Polónia e dos Bálticos, Lituânia e Letónia, admitiram de imediato uma reacção de linha dura à Rússia, o que corresponde ao seu padrão de acção nesta guerra na Ucrânia, considerando que são os mesmos que defendem há meses que a organização militar do Atlântico Norte se empenhe na criação de um espaço de exclusão aérea sobre a Ucrânia, levando a um conflito directo com a Rússia, que os Presidentes Joe Biden e Vladimir Putin deixaram de início claro de que tal levaria inevitavelmente a uma III Guerra Mundial e a um holocausto nuclear.

Para já, essa possibilidade parece estar posta de parte, mesmo que Varsóvia tenha accionado o Artº 4º da NATO, que leva à reunião dos 30 membros para análise detalhada a uma situação de hipotético ataque externo, o que, a confirmar-se, levaria à convocação do Artº 5º, que permite uma resposta militar contra o eventual agressor, o que, a suceder, seria o início de uma catástrofe global sem precedentes.

Mas não é um cenário que tenha pernas para andar porque dois dos media norte-americanos mais usados pela Casa Branca como "montra" do seu pensamento, vieram já a público informar, no caso a AP, citando fontes do topo da hierarquia militar dos Estados Unidos, que se tratou de um míssil ucraniano a cair na cidade fronteiriça ucraniana, tendo a CNN avançado que um avião-radar da NATO (AWACS, na foto) tracejou o voo do míssil em causa concluindo que se tratou de um projéctil ucraniano usado na defesa aérea contra um vasto ataque russo à Ucrânia na terça-feira.

A China também se pronunciou apelando à calma de todos os envolvidos.

Embora seja já evidente que os "falcões" europeus deixaram de ter espaço de manobra para escalar o conflito na Ucrânia, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, optou por garantir que o seu país colocou as suas forças miliares em estado de prontidão e prometeu aumentar a sua capacidade de resposta em caso de ataque, depois de também ele admitir que não é possível indicar quem foi o autor do ataque que fez dois mortos em Przewodow.

Este amaciar da posição polaca foi imposto pelos EUA a quem compete a maior responsabilidade no lidar deste assunto porque, em caso de guerra directa entre a NATO e a Rússia, seriam as suas forças militares a fazer o grosso do combate, como, alias, ficou claro quando o próprio Presidente Biden, que estava em Bali, na Indonésia, para a reunião do G20, avançou a informação, depois de reunir com os membros da NATO presentes neste encontro, ser "muito improvável" o envolvimento intencional de Moscovo neste ataque.

Apesar destas indicações substantivas de que não se tratou de um ataque intencional russo, o Presidente da Polónia, outro defensor de uma escalada na guerra, veio a público defender que o projéctil que atingiu a pequena cidade fronteiriça polaca é de fabrico russo, embora isso seja irrelevante, porque uma larga percentagem do equipamento militar ucraniano é, efectivamente, de origem russa, nomeadamente os S-300, misseis antiaéreos, que se suspeita ter sido o causador da explosão em Przewodow.

As evidências de que se tratou de um projéctil ucraniano são substanciais, mas o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, lançou um apelo à escalada militar e ao envolvimento da NATO na guerra, acusando Moscovo de ter atacado deliberadamente um membro da organização.

Com esta atitude que é claramente extemporânea, até pelo facto de os lideres da NATO terem dito que não existem dados que permitam corroborar estas suas acusações, o líder do regime ucraniano insistiu no aproveitar deste episódio para apelar ao confronto directo entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte e a Federação Russa, o que seria o abrir de uma Caixa de Pandora catastrófica para a Humanidade.