Desde meados da década de 1990, logo após o genocídio no Ruanda, em 1994, quando mais de 800 mil tutsis foram chacinados pela maioria Hutu, que o leste da RDC serve de palco de confrontos entre grupos armados gerados no rescaldo dessa mortandade e como refúgio de guerrilhas oriundas dos vizinhos Uganda e Ruanda.

A presença destas dezenas de bandos armados, milícias, como os famigerados M23, ou ainda a Frente Democrática de Libertação do Ruanda (FDLR) ou a Aliança das Forças Democráticas (ADF), do Uganda, pouco depois de passar o frenesi a seguir ao genocídio no Ruanda, transformaram-se em unidades tácticas de exploração dos abundantes recursos naturais, como o coltão, o cobalto, ouro ou diamantes, que existem no leste da RDC, como o Novo Jornal destacava aqui, já em 2016,

Com um saldo de milhares de mortos entre as sacrificadas comunidades locais, por vezes com aldeias destruídas por completo e os seus habitantes chacinados como forma de limpar o território para facilitar a exploração ilegal de recursos naturais, que gera milhões de dólares de prejuízo anualmente para os cofres de Kinshasa, restava pouco mais a fazer ao Presidente Tshisekedi que não fosse apelar às suas FARDC para expulsar as guerrilhas e extinguir os bandos armados locais.

Para isso, contou já com o apoio da Conferência Episcopal dos Bispos Católicos do Congo (CENCO) e espera o apoio integral da MONUSCO, a mais bem armada e maior em número de homens Missão da ONU para a RDC, e também, embora essa possiilidade não esteja ainda confirmada, com o apoio da Conferência Internacional para os Grandes Lagos (CIRGL), actualmente presidida por Angola, e num momento em que o Presidente João Lourenço tem insistido na cooperação regional como ferramenta de primeira linha para acabar com a violência nesta geografia, seja no leste do Congo, seja na República Centro-Africana (RCA).

E se na RCA, o Ruanda de Paul Kagame foi lesto em enviar uma força militar para apoiar o Presidente Touadéra contra os grupos armados que o combatem, agora espera-se, como estão a advertir alguns analistas, que o mesmo apoio seja dado neste combate de Félix Tshisekei no Kivu Norte e Ituri, províncias que fazem fronteira com o Ruanda, a primeira, e com o Uganda, a segunda, nem que seja no fecho da fronteira para impedir as retiradas estratégicas dos guerrilheiros.

Ainda em pano de fundo para esta iniciativa do Presidente congolês está o assassinato do embaixador italiano no leste da RDC, há algumas semanas, o que causou um forte abanão na imagem externa da RDC, ficando exposta ainda mais a insegurança que se vive neste país.

Mas, para já, Tshisekedi, num discurso à Nação através da televisão congolesa, pediu a unidade nacional para permitir o sucesso desta empreitada, exigindo à oposição que não perturbe o combate e ao povo que apoie o combate.

Com a declaração do estado de sítio, que começa a 06 de Maio e termina 30 dias depois, para já, o Chefe de Estado substituiu temporariamente as administrações/governadores provinciais por chefes militares de forma a garantir que o avanço das FARDC não terá obstáculos de natureza formal ou logística.

Com isto, o Presidente congolês quer que a RDC deixe de surgir aos olhos do mundo como um pais sem lei e à mercê de bandos armados, gerando desconfiança quando o futuro, o que afasta os investidores estrangeiros e atrasa o desenvolvimento do conjunto nacional.

"Este desafio só vai terminar quando os bandos armados estiverem definitivamente Erradicados", garantiu Félix Tshisekedi na comunicação televisiva ao país.

Entretanto, a CENCO já tornou público, em comunicado, que apoia uma comissão de inquérito Parlamentar sobre a insegurança no leste do país e o seu presidente, o abade Donatien N"Shole, avançou ainda que os bispos católicos congoleses contam com o apoio de toda a igreja católica da África Central neste endereçar de apoio aos objectivos da Assembleia Nacional e do Presidente da República.

Os bospos já tinham chamado igualmente a atenção para a utilização destes grupos armados por organizações islâmicas radicais que procuram islamizar a região, como o Novo Jornal publicou aqui.

Recorde-se ainda que na mini-Cimeira que o Presidente angolano e da CIRGL em exercício organizou em Luanda para debater a questão da segurança regional, embora com o foco principal na RCA, ficou claro, no discurso de João Lourenço, como o Novo Jornal noticiou na altura, em finais de Janeiro último, que a sua preocupação se estendia a todos os focos de conflitos nos Grandes Lagos, com destaque para o leste da RDC.

Alias, estas províncias, especialmente Ituri, mas também Haute-Uele, estão próximas da RCA e têm sido identificadas como local de refúgio dos bandos armados que actuam nos combates pelo controlo de Bangui, a capital da RCA, procurando derrubar o Presidente Faustin-Archange Touadéra.