A notícia da condenação de Sindika Dokolo foi confirmada pelo próprio através da sua conta no Twitter, onde acusa Joseph Kabila de ser o responsável pela decisão judicial.

"Kabila fez com que fosse condenado a um ano de prisão", escreveu o empresário congolês, acrescentando que por detrás da sentença está a alegação de que roubou 1 milhão de dólares.

Para o coleccionador de arte, casado com a empresária Isabel dos Santos, a acusação não merece a menor credibilidade, apontando como exemplo o seu recente investimento de 400 milhões de dólares na Cimangola.

Ainda no Twitter, Dokolo defende que é preciso encorajar os congoleses na diáspora a regressar à RDC para reconstruir o país, em vez de os forçar ao exílio, por medo.

Crítico, o genro de José Eduardo dos Santos sublinhou, em declarações à agência Reuters, que está a ser alvo uma "condenação grosseira".

"Parece que Kabila e a ANR (Serviços de Inteligência da RDC) já nem sequer se preocupam em manter as aparências", lamenta Sindika Dokolo.

Segundo o empresário, a sentença agora proferida, "in absentia", ou seja, sem a sua presença em julgamento, refere-se a um processo em relação ao qual tinha sido ilibado, facto que, no seu entender, confirma as motivações políticas da decisão.

Na base desta argumentação estão as críticas cada vez mais duras que o coleccionador de arte tem dirigido ao regime de Joseph Kabila, acentuadas pelo seu apoio a Moise Katumbi, rival do líder congolês, igualmente condenado por fraude imobiliária no passado mês de Junho.

Recorde-se que, no final de Junho, em declarações à agência de notícias Reuters, Sindika Dokolo voltou a alertar para os perigos da situação na RDC.

"Andamos a subestimar a capacidade do Congo para desestabilizar a região", advertiu o empresário, acentuando o tom do aviso: "Estamos a brincar com fósforos num barril de explosivos, e isso preocupa-me bastante".

Os alertas de Sindika Dokolo surgiram menos de um mês depois de ter dirigido duras críticas ao Presidente Joseph Kabila, que responsabiliza pela onda de violência que se vive na RDC, em particular no Kasai e Kasai Oriental.

Segundo sugere o empresário, o crispar dos acontecimentos esconde "uma vontade deliberada de criar uma crise sub-regional", sendo razoável pensar que "tudo foi feito para que não haja eleições".

Para sustentar a sua análise, divulgada em entrevista ao jornal belga La Libre Belgique, o coleccionador aponta como exemplos de "pedras na engrenagem" o atraso no registo eleitoral e a morte de funcionários da ONU, a seu ver assassinados com a intenção, admissível, de levar a ONU a retirar-se do processo eleitoral, "tudo indicando que se trata de uma estratégia de terra queimada".

"Se for o caso, e face ao balanço trágico em vidas humanas, isso poderia - e sublinho o condicional - revelar-se como uma questão para a Justiça Internacional ou para o Tribunal Constitucional, a quem cabe estabelecer os termos que constituem o crime de alta traição. É dramático pensar que políticos possam ter instrumentalizado a morte de congoleses e civis estrangeiros com fins políticos", disse Sindika Dokolo nessa ocasião.

Com uma voz cada vez mais activa na discussão da realidade do seu país natal, o marido de Isabel dos Santos doou recentemente 200 toneladas de ajuda humanitária aos milhares de refugiados congoleses que, dia após dia, chegam a Angola.