Os jovens questionaram o Chefe de Estado sobre o seu papel, as suas responsabilidades e o lugar que a juventude deve ocupar na construção do país. A iniciativa surgiu na sequência das Consultas Nacionais da Juventude e do impulso gerado pela chamada "Village des Opportunités", prolongando um processo de escuta que aponta para a necessidade de transformar discurso em acção concreta.
Este momento interno da RDC ocorre num contexto regional marcado por desafios persistentes, onde o apoio dos países vizinhos assume particular relevância. Angola tem acompanhado de perto a situação congolesa, tanto no plano político como humanitário, defendendo soluções que privilegiem a estabilidade, o diálogo e a assistência às populações afectadas pelos conflitos. O envolvimento angolano parte de uma leitura pragmática da região: a consolidação da paz e o investimento no futuro da juventude congolesa são factores essenciais para a segurança e o equilíbrio de toda a África Central, incluindo Angola.
A 60.ᵃ Reunião Ministerial da UNSAC, realizada no princípio de Dezembro, em Malabo, Guiné Equatorial, recolocou no centro da agenda regional a situação humanitária na República Democrática do Congo. A delegação angolana defendeu a necessidade urgente de mobilizar recursos financeiros, logísticos e materiais para socorrer as populações afectadas pela insegurança persistente no Leste da RDC.
Os Estados presentes analisaram igualmente a Agenda Mulheres, Paz e Segurança na África Central e a protecção de crianças expostas aos conflitos armados. No essencial, o encontro apresentou uma leitura realista do estado da região: violência crónica, deslocações forçadas e serviços essenciais continuamente interrompidos. O apelo de Angola insere-se neste contexto como reconhecimento da gravidade da situação e da necessidade de respostas colectivas.
Para Angola, o tema é relevante. A extensão da fronteira comum e a circulação transfronteiriça fazem com que cada agravamento no Leste da RDC tenha reflexos directos nas províncias angolanas adjacentes. Quer pela pressão migratória, quer pelo impacto económico local, quer pela exigência acrescida de vigilância, a instabilidade congolesa tem sempre um custo. A degradação contínua do Leste congolês cria efeitos que nenhum país vizinho consegue ignorar.
Ao mesmo tempo, a reunião de Malabo mostrou que a RDC continua a depender de intervenções externas para gerir crises prolongadas. Os Estados-membros reconheceram que o actual quadro não permite optimismos fáceis. A multiplicidade de grupos armados, a fragilidade institucional e a disputa de influência regional mantêm o terreno volátil. A assistência humanitária é, por isso, uma necessidade permanente, não uma resposta episódica.
Recorde-se que o Presidente João Lourenço testemunhou, agora Dezembro, em Washington, a assinatura do acordo de paz entre a RDC e o Ruanda.
As resoluções de Malabo só terão utilidade se forem seguidas de compromissos concretos dos Estados e dos parceiros internacionais. A RDC continua a ser um epicentro de instabilidade regional e não há caminho rápido para inverter décadas de conflito. Mas ignorar a situação também não é opção. A resposta humanitária é a linha mínima de intervenção. A cooperação política é o passo seguinte. E a estabilidade só virá quando ambas forem tratadas com o mesmo grau de urgência.
*Mestre em Linguística pela Universidade Agostinho Neto